29 setembro 2006

Volver

Decidi que vou começar a postar os meus textos.
Enjoy it!





Volver


Almodóvar é um diretor que virou adjetivo.
Para deleite dos apaixonados, e surpresa dos não-tão-fãs-assim, Pedro Almodóvar visita e reconstrói o universo que o consagrou como um estilo e uma tendência cinematográfica em Volver, o seu décimo sexto longa-metragem.
Bem na verdade não é de hoje que o seu cinema vai e volta na própria história, mas Volver surpreende sobretudo por sua densidade. É um retorno maduro que representa, dentro desse espiral que é a sua filmografia, uma das peças-chave para compreender um pouco mais não só da biografia do próprio diretor mas também da espanha contemporânea. Aquela que se aferra ao arcaico mas se rende ao moderno sem deixar de ser, acima de qualquer coisa, um berço de tradições. E é dessa mesma espanha, daquela que em seus tempos se envergonhou da ovelha negra, que nasce o cenário rústico e manchego do filme.
Na região de Castilha-La Mancha Almodóvar busca suas novas mulheres, em três gerações, mais exuberantes e fortes do que nunca. Raimunda (Penélope Cruz) é casada com um desempregado e tem uma filha adolescente (Yohana Cobo). Sole (Lola Dueñas), sua irmã, ganha a vida como cabeleireira em um salão improvisado em seu apartamento. A mãe de ambas (Carmen Maura), morta em um incêndio, volta para resolver alguns assuntos pendentes e unir-se as filhas em um universo onde as mulheres, unidas, sobrevivem. Ao fogo, a loucura e ao vento que desespera os manchegos e que não cessa em hipótese alguma.
É um filme sobre a cultura da morte da região onde o diretor passou grande parte da infância. Segundo Almodóvar “o modo como os mortos permanecem nas suas vidas, a riqueza e a humanidade de seus rituais fazem com que os mortos não morram nunca”.Mas ao contrário do que pode parecer, Volver não é uma comédia surrealista, mas trabalha muito bem o limite entre o mundano e o fantástico. Mortos e vivos convivem sem dramas. Incesto e assassinatos também, na sempre presente ironia feminina que, desta vez, inunda este universo.
A história está cheia de toques tragicômicos que, dentro do contexto, nos levam rir de nossa própria família por vezes tão burguesa e tradicional como a delas. São detalhes e situações quase mágicos que só quem já os vivenciou pode contar. De fato, Almodóvar disse em entrevista que “escutar Carmen (Maura) e Lola (Dueñas) durantes os ensaios era como ouvir minha irmã Antonia e minha tia Maria Jesus falando da vida de alguém”.
Quanto a estética, impecável. Planos feitos aos olhos de um bom ourives. Enquadramentos diametralmente perfeitos, cores que preenchem o espaço e a visão. Então o que dizer do casting? Penélope, Lola, Yohana e Carmen Maura são, de fato, aquelas mulheres, naquele momento, naquele lugar. Muito se esperava deste reencontro entre Maura e Almodóvar, depois de uma ruptura pós-Mulheres a Beira de um Ataque de Nervos(1988), mas a volta não poderia ser mais deliciosa: “Maura é o instrumento mais afiado com o qual já trabalhei”. Para a chica-almodóvar mais querida pelo diretor, a surpresa foi a mesma que há 22 anos. “ Não me reconheço”, diz Maura depois da primeira exibição, “Pero me encanta!!!”.

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