28 junho 2008

unpacking

Hoje recebi uma mala.
Livros, CDs, roupas, calcinhas-fetiche, toalhas com o seu cheiro. Brinquedos vermelhos e rosas. Regata preferida, pijamas de plantão, aquela calça que ficava melhor em você do que em mim, sapatilhas-de-sabado-a-noite e um bilhetinho de 20 palavras terminado com "até".

Hoje recebi uma mala com alça mas sem coração...

26 junho 2008

Eu sou bicha?!

O Jogo das personalidades:

Participantes: mais de um - a não ser que acorde em um dia existencialista- , e menos de 10, para tornar a brincadeira "terminável"

Objetivo do jogo: incentivo do uso da cultura geral e inútil, desenvolvimento de técnicas de entrevista jornalística, interelação de informações desencontradas

Personalidades válidas: de Moby Dick a Mulher Melancia, passando por super heróis, amigos próximos, chefes de estado e lugares-comum

Tempo estimado de jogo: pode variar conforme o consumo alcólico e o grau de dificuldade do amigo FDP

25 junho 2008

fill in the blanks



Para um dos meus 31 amigos de facebook: tão perdido quanto eu e cada dia mais próximo da marca de 1 milhão. rs.....

22 junho 2008

11 x 11

Eventos esportivos que envolvam a as duas nacionalidades da minha família em competição são sempre uma alegria para mim. Formula 1, todos os esportes olímpicos, copa do mundo campeonato de bocha ou xadrez; não importa. Se houver um representante español na jogada minha mãe logo pendura a sua bandeira na janela de casa, torce por nomes que nunca ouviu falar e tenta entender as regras do jogo enquanto todos prestam atenção.
Neste momento a Espanha joga quartas de final com a Itália na Euro Copa. Divertidíssimo, com o adendo de que temos 5 hóspedes italianos, amigos de infância do meu pai, dividindo as mesmas polegadas em tela plana.
Entre cognacs, digestivos, docinhos e cafés, cada um xinga no seu idioma (confesso que em dialeto siciliano tudo fica mais engraçado, principalmente os adjetivos `a mãe do juíz).
Final do segundo tempo: zeroazero.
Os pênaltis vão ser uma piada, e o jantar... impagável.

19 junho 2008

A Casa de Alice

No país de carne e osso


No cinema, nada é tão tênue quanto a linha que separa a verdade da mentira. Implícita desde o primeiro frame, a discussão é tão imune ao processo criativo que não vale nem a análise, mas o aumento da procura e produção de documentários tem mostrado que só se tem a ganhar dessa mistura ‘amoral’ de real e ficção. A Casa de Alice, primeiro filme ficcional do documentarista Chico Teixeira, é um ótimo exemplo de projeto seguro e bem analisado em festivais dentro e fora do país.
Alice – interpretada por Carla Ribas-, é uma manicure quarentona que mora na periferia de São Paulo e mantém um casamento ‘bege’ com um taxista adorador de lolitas pré-puberes. Seus três filhos estão entre a adolescência e a maturidade, e sua mãe, Dona Jacira, é a idosa dona do apartamento onde todos moram amontoados. Ela é também a base estrutural da casa; ao mesmo tempo em que cozinha, passa e lava os lençóis das noites mal dormidas de todos, é solitária o suficiente para tornar seus, os podres que passam escondidos pelos bolsos das calças que esperam sua vez na pilha de roupas sujas da área de serviço. Alice, que faz vista grossa aos casos do marido para não ter que olhar para suas próprias aventuras, é tão mortal que chega a ser cinza de cotidiano, mas se envolve com um cliente e ex-namorado na esperança de se manter viva, e de fugir da sua realidade monocromática.
O filme é um retrato limpo da classe media do telefone discado, da televisão aberta, do radio de pilha e da margarina com pão francês. O uso de não-atores, o apego ao gesto, ao mínimo movimento que nasce e não brota de um roteiro não deixa de ser perigoso, mas areja essa leva infinita de tentativas de se fazer o novo “Cidade de Deus”. A narrativa naturalista permanece colada em seus personagens com uma fidelidade tão documental que periga ser fantástica. Não é um filme de ação, reflexão ou síntese, é um filme de atores que não são atores, e só por isso já vale pena.

17 junho 2008

Formação Acadêmica: corte-e-costura.

Escrever é cortar palavras, deixar restar o essencial. Não é necessário irmos ao encontro delas, todas chegam até nós com suas sedutoras vestes, prestativas disposições. Só precisamos olhá-las de frente, resistir às tentações dos adjetivos, às metáforas patéticas, às promessas adverbiais.

referências


Liniers é a minha última grande descoberta.

anguish...

...... puxar todo o ar que existe, pressioná-lo contra o peito e morrer de desgosto por não fazer parar o coração...

Decalque do Real - "Diante da Dor dos Outros", S. Sontag

“(...) em relação à fotografia, eu era tomado de um desejo ontológico: eu queria saber a qualquer preço o que ela era em si, por que traço essencial ela se distinguia da comunidade das imagens. No fundo, eu não estava certo de que a Fotografia existisse, de que ela dispusesse de um gênio próprio”. Ao iniciar o seu argumento em “A Câmara Clara”, Roland Barthes afirma que essa tentativa o levou a descobertas tão inacreditáveis como esperadas. A fotografia se esquiva, é inclassificável, é indizível. Exprime o mistério do que, tecnologicamente reproduz e repete ao infinito, mas que perde a capacidade de repetir-se existencialmente. Para o autor, a fotografia nunca poderá ser transformada filosoficamente, estando inteiramente ligada com a contingência de que ela pode ser um “envoltório transparente e leve”, ou seja, apenas ser. Nesse sentido, ela traria consigo sempre o seu referente, ambos atingidos pela mesma imobilidade, pela mesma passividade impressa, pelo decalque, sim, genuíno, mas sempre um decalque. Estariam coladas, a realidade e a sua captação, uma à outra, membro por membro, “(...) como esses objetos folhados cujas folhas não podem ser separadas.” O que Barthes clasifica como fatalidade – essa “teimosia” incessante do referente estar sempre presente – seria o princípio da sua inclassificação. Ao não poder ser classificada, ao não poder ser esmiuçada, ao ser tão abrangente quanto concreta, jamais conseguiria adquirir a nobreza ou a segurança de um signo, jamais seria digna como uma língua. Para o autor, as fotos são signos que não prosperam, que coalham, pois seja o que for que ela nos mostre, elas serão sempre invisíveis, apenas um portal, um suporte, uma mídia: não são elas que vemos, mas sim ATRAVES delas.Muito se diz a respeito do momento epifânico do click, do dedo pulsionador, da captura abrupta e tantas vezes violadora do tempo. Para Richard Avedon, as fotos possuem uma realidade que as próprias pessoas são incapazes de imprimir em suas vidas. O que é ser real? Fazer parte? Somos reais se estamos “em quadro”. Não importa a nossa grandeza se somos 35 mm. Podemos existir sempre e quando tenhamos um representante, uma espécie de porta-voz imagético que transporte e traga para a superfície aquilo que supostamente somos. Fotos que enquadram o mundo merecem ser enfeixadas em álbuns, afixadas e emolduradas por as vez, pregadas em paredes, projetadas. Jornais e revistas as publicam; a polícia as dispõe em ordem alfabética, os museus as expõem, os editores as compilam. Captamos, mexemos e manuseamos nos mesmos, o que vivemos, a nossa própria vida.Em “Sobre a fotografia”, Susan Sontag desenvolve um raciocínio polido e “honesto” ao conferir às fotografias uma tarefa educadora: quando somos inseridos na lógica do código visual, elas modificam e ampliam nossas idéias sobre o que vale a pena olhar e sobre o que temos o direito de despejar o nosso olhar. Não basta observar, é precisa ter o know-how, assim podemos ter a sensação de que podemos reter o mundo inteiro latentemente nos “cristais de prata” da nossa “película”. Segundo Sontag, fotografar é apropriarse da coisa fotografada, colocando-nos em uma postura de poder e autoridade com relação ao mundo. As fotos são experiência capturada, e a câmera é o braço ideal da consciência, em sua disposição aquisitiva. “Imagens fotografadas não parecem manifestações a respeito do mundo, mas sim pedaços dele, miniaturas da realidade que qualquer um pode fazer ou adquirir”.Por que do choque com as fotos de Abu-Ghraib? Por que, horrorizado e com repulsa Bush pede desculpas pelas humilhações causadas? Por que do desconforto inicial com o que nos foi mostrado pelos próprios soldados norte-americanos e suas potentes armas mortíferas digitas, calibre 3 ou 4 mega pixel? Quando fotografados, tornamo-nos reais, assim como o próprio toque de Midas, a foto nos cristaliza não banhando-nos de ouro, mas sim de veracidade comprobatória. Somos imagem, somos espelho, somos a cópia, e imprimimos em papel perolado ou fosco a nossa “aura”. O que era pressuposto do olhar, agora é seu resultado. Sentimo-nos onipresentes e conscientes da realidade imagética sempre e quando esta chegue até nós. Não precisamos sofrer ou fazer sofrer para sentir, não precisamos viver e estar para saber. Esse foi o ponto de Abu-Ghraib. As fotografias nos transportaram para a pele dos iraquianos torturados, e também para a dos torturadores divertidos norte-americanos. Mas não nos deixemos iludir. Sons, cheiros, sentimentos são capazes de nos conduzir a um grau de abstração suficientemente apto a nos remeterem a situações vividas. Mas quando se trata de imagens, sabemos que a associação é rápida,a conexão é direta e não enfrenta nenhum tipo de obstáculo. Quando se trata de recordar, a fotografia fere mais fundo. A memória congela o quadro. As fotos das torturas infligidas nestes seres humanos (ou no técnico norte-americano degolado), criam arquivos de imagens comprobatórias, representativas, que englobam idéias comuns de relevância e desencadeiam pensamentos e sentimentos previsíveis. Pensamos a história (assim como a própria guerra no Iraque) sob forma de videoclipe, através de flashes e impulsos magnéticos. Numa sociedade em que falta tempo para a preocupação com o sofrimento alheio, a fotografia pode, até mesmo, ser uma forma prática de entender um conflito que está acontecendo muito longe, mas que temos o dever moral de conhecer. Mas faço aqui um parêntese. Não quero abordar o tão batido tema do gosto pelo mórbido (ainda que S. Sontag o faça de maneira razoavelmente satisfatória em “Diante da dor dos outros”) mais uma vez, nem quero demonstrar como o ser humano é baixo e pode ser podre quando posto defronte da dor alheia, mas atire a primeira pedra quem não procurou mais fotos da “prisão-da-estação” na internet, ou não pediu para o amigo mandar na íntegra o vídeo do degolamento. Sim, afogamos nossa volúpia nestas imagens, e faço de William Hazlitt minhas palavras: “o amor à maldade e à crueldade é tão natural aos seres humanos como a solidariedade”.Nelson Brissac, por sua vez, argumenta a respeito deste “olhar através” (que Barthes tanto cita) desta janela, onde só se semeia, ultimamente a ausência da presença. Por já não existir o indizível, tudo está ao nosso alcance. O mundo tornou-se vitrine, opaca, reproduzida, enlatada. Através de uma proliferação cancerígena de imagens o nosso inconsciente se acostumou de tal forma a ingestão programática e rentável de cores, luzes e formas impressas que já não há ausência. Não nos restam dúvidas também de que o conflito imagético de Abu-Ghraib é apenas mais uma febre da consciência adormecida que, de quando em quando desperta como um ogro tirado de sua hibernarão. Não duvido que em um futuro não tão longínquo, a imagem do iraquiano prestes a ser eletrocutado, com um saco de batatas na cabeça, com os braços abertos como Jesus Cristo seja a referência nos livros de história a respeito do conflito no Iraque, assim como a criança vietnamita, horrorizada e correndo de uma paisagem da morte se tornou um ícone pop do nosso século. O problema não é que as pessoas lembrem por meio das fotos, mas que só se lembrem das fotos.

Modernismo-pós-hype-contemporâneo

Hoje o experimentalismo pelo experimentalismo não é nada. Nem uma forma de arte. Ele deveria estar ligado à experiência subjetiva, fruto de uma necessidade de dizer alguma coisa que você não está conseguindo. A vanguarda pela vanguarda, ocorrida nos anos 60, acabou com a chegada das novas tecnologias. O importante é forjar uma nova atitude em relação ao mundo, por meio de uma experimentação intensa. Entender como e por que as pessoas experimentam as coisas.

In "Pequenas Epifanias", Caio Fernando Abreu (fucking genius)

Meu coração é um traço seco. Vertical, pós-moderno, coloridíssimo neon, gravado em fundo preto.Meu coração é o mendigo mais faminto da rua mais miserável.Meu coração não tem forma, apenas som.Um noturno de Chopin em que Jim Morrinson colocou uma letra falando em morte, desejo e desamparo, gravado por uma banda punk. Couro negro, prego e piano.Meu coração é um bordel gótico em cujos quartos prostituem-se ninfetas decaídas, cafetões sensuais, deusas lésbicas, anões tarados, michês baratos, centauros gays e virgens loucas de todos os sexosMeu coração é um bar de uma única mesa, debruçado sobre a qual um único bêbado bebe um único copo de bourbon, contemplando um único garçom. Ao fundo, alguém geme um único verso arranhado. Rouco, louco.Meu coração é um filme noir projetado num cinema de quinta. A platéia joga pipoca na tela e vaia a história cheia de clichês.É um deserto nuclear varrido por um vento radioativo.Uma velha carpideira portuguesa, coberta de preto, cantando um fado lento e cheia de gemidos.Meu coração é um poço de mel, no centro de um jardim encantado, alimentando beija-flores que, depois de prová-lo, transformam-se em cavalos brancos alados que voam para longe, em direção à estrela Vega.Faquir involuntário, cascata de champagne, púrpura rosa do Cairo, sapato de sola furada, verso de Mario Quintana, vitrine vazia, navalha afiada, figo maduro, papael crepom, cão uivando pra lua, ruína, simulacro, varinha de incenso. Acesa, aceso - vasto, vivo: meu coração teu.

São Paulo - Milão (747)

Lentamente.Como se cada momento fosse tão único, tão IRREMEDIÁVEL, que seria preciso vivê-lo assim, lentamente.Talvez essa fosse mesmo a última vez que ele abria aquela caixinha opaca, tão opaca quanto a sua pele, a vividez das suas "janelas". Cabelo branco, todo branco, desgrenhado, sujo, daqueles que não sabem se cuidar quando viajam sozinhos. Ou nunca souberam, ainda mais agora, quando a areia já esfarela embaixo dos pés precipício abaixo.Sozinho.Deve doer.Lentamente. Nem encostou no bolo. Deve ser diabético. Tomou três, três ou quatro. Uma redonda rosada e duas amarelas. Engraçado. COLORIDOS. Pq catzo eles insistem em usar cores?!Devagar.Primeiro a bandeija pro lado. Fecha a mesinha. Como se fosse pra sempre lentamente. Como se a pressa fosse um inimigo tão voraz que a única forma de combatê-la fosse assim... indiscriminadamente slow motion. Reprise. Pedaços de memória, cacos de vidro mastigados, cores, dores, datas, perdas... porta-retratos vazios... feli (c/z) idade?A gente vive muito. Até demais. Como se o prazo de validade vencesse e a gente continuasse aqui, enrolando... perdendo o glamour, a frescura, o brilho. Pra sempre entes opacos. Pedaços de vida esfriando, endurecendo.
Tá vendo?! Faz tanto sentido...A gente ralenta pq a vida é fria e dói, mas já foi tão boa um dia (naquele dia que nunca é hoje, e é sempre aquele ontem que passou tão rápido que a gente nem viu) que a gente goza já nos créditos iniciais.
Placebos.
Pequenos biscoitos pro cão obediente. Fiel sempre. Que apanha mas finge de morto e rola quando pedem.
Às vezes achos que somos as mulheres mais escrotas de Nelson Rodrigues, dessas que adoram uma bela surra... E resistimos....sempre lentamente.

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