11 dezembro 2008

tragicomeRdia.

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Eu acho incrível a tendência que tenho ao drama. Não é uma força de expressão. Eu realmente adoro, e acho que viver a vida intensamente (e tempestear mesmo quando há a profundidade de uma poça d'água rasa) nos faz sentir vivos. Ok, às vezes a sensação é de morte, mas até da morte se aprende.

Lá, no fundo da minha cadeia genética, em algum cromossomo perdido, deve existir um opcional de fábrica de origem ítalo-ibérico que me faz chorar, rir, chorar de rir e rir do meu choro com tanta intensidade quanto me gasto no amor. No amor de verdade.

Refaço diálogos mentalmente, entono em voz alta (bem alta) emails de despedida, discuto sobre a miséria humana com o meu gato, chafurdo nos clichês do abandono, juro, prometo e brado a quem quiser ouvir que o amor não existe.

Mas no que sou boa mesmo são as "ceninhas". Aquelas que começam trágicas e terminam cômicas quando saio de mim e me vejo na situação:

- o choro engasgado no estacionamento com a cabeça apoiada no volante (e a sensação estranha de subir o elevador inchada de chorar pensando "será que o porteiro consegue me ver pela câmera?"),

- a dor de estômago e a falta de ar da despedida (que gosto de encerrar sempre com uma grande frase de efeito),

- as lágrimas e a sua correnteza vertical contempladas em frente ao espelho (que arremato acertando a franja para um lado ou outro, dependendo de que lado do rosto o rímel estiver mais corrido),

- a solidão e o vazio no peito abraçados literalmente ao poste da sala (este, de nova aquisição para o meu repertório de performances, me fez muita companhia em noites de solidão).

- a reflexão durante o banho que sempre me escorrega pela parede até a posição fetal, no chão frio, deixando a água bater na nuca (essa é uma das minhas "ceninhas" preferidas),


Preciso disso. Preciso sofrer. Preciso sentir no meu corpo a dor do coração. Gosto de amar demais. Porquê ser bege se a vida já é tão cinza?

É preciso doer pra sentir. Seja o frio na barriga do arrebato, seja o frio no peito da auto-comiseração.

E enquanto isso: só rindo pra não chorar... ou melhor... chorando muito, pra talvez conseguir rir no final.

Obrigada, Assennatos e Botellos.


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09 dezembro 2008

me sinto... ridícula.

Todas as cartas de amor são ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,

Ridículas. As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas. Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas. A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas, Como os sentimentos esdrúxulos, São naturalmente Ridículas.)

Álvaro de Campos.

08 dezembro 2008

Ç

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ela 1 - Mas o que aconteceu, amiga?
ela 2 - A gente parou de se entender... não falávamos mais a mesma língua, sabe?
ela 1 - Mas como assim? Do nada?
ela 2 - Ah, eu dizia "A" e ele entendia......
ela 1 - B?
ela 2 - Não. Tipo... CEDILHA.
ela 1- CEDILHA?!!
ela 2- É...
ela 3 - uau... CEDILHA é foda. CEDILHA é a representação exata e metalinguística da falta de comunicação.
ela 1 - Gente, CEDILHA é uma consoante acentuada!!! É diametralmente oposta a "A".
ela 2 - entendeu? Foda... a gente parou de se entender.




Silêncio.




uma delas - e aê, vamo pedir aquela pizza?



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