20 maio 2009

às terças (ou o primeiro beijo)

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Este é o primeiro beijo da arte ocidental. Não é incrível?!

Em primeiro plano estão Sant´Ana e São Joaquim (para os ateus: pai e mãe da pobre Virgem Maria) em representação de uma passagem do Evangelho apócrifo de S. Tiago onde os dois se reencontram depois de 30 dias separados. O encontro é dos mais tenros: mãos, olhos e bocas se confundem e preenchem nesse espaço os vazios numa composição forte (quase piramidal) sem a alteração dos tamanhos dos personagens (os protagonistas eram representados em maior tamanho que os secundários).
O "Encontro de São Joaquim e Sant'Ana", faz parte dos afrescos da capela de Scrovegni, na Arena de Pádua, e é considerado por unanimidade como o expoente máximo da maturidade artística de Giotto.
Aliás, falando nele... Giotto foi um cara importante.
É com ele que as figuras humanas começam a adquirir uma individualidade imagética diferente de tudo que tinha sido produzido na arte bizantina até então(figuras planas quase pictóricas sem nudez, volume ou dimensões). Ele levou à pintura a narrativa pelo gesto, pela expressão que não era cogitada desde que o conceito de beleza greco-romana caiu por terra com a ascensão da Igreja Católica (império cristão, na verdade). Quer dizer, o que o cara fez, basicamente, foi usar o que ele tinha a seu favor de forma inteligente. Todos os corpos continuavam cobertos, mas o movimento foi resgatado através das pregas dos tecidos, da sombra, do claro-escuro que concede VOLUME e maior naturalidade à representação. Demais.
Ele também deu uma atenção especial aos olhares, às expressões à troca entre os personagens... ou seja, ele “contava historinha” a sua maneira.
Tudo isso pode parecer bem "inocente" aos nossos olhos inundados de tantas referências visuais/virtuais, mas se pararmos pra pensar que a arte naquele então era a única mídia existente (e que não necessariamente tinha uma áurea de sacralidade por ser “arte”)... o cara revolucionou.
Imaginem o que era isso! Em um mesmo lugar tinha-se que dar espaço à tudo: troca de favores políticos, o didatismo necessário que a igreja exigia, à técnica e ao toque genial da junção da “fórmula” com o talento.

E nóis twuitando. Afe.


O espaço, como se vê, é absolutamente simbólico. As proporções são de mentirinha e tudo parece uma grande (pequena) maquete. Nada por acaso: pra se virar nos 30, ele tinha que mostrar o óbvio, por isso a arquitetura e as paisagens parecem cenários, papéis de parede para A grande encenação teatral dos seus rostos e expressões. Espertinho.

Os renascentistas que vieram depois, cheios de marra e certezas, consideraram Giotto um pintor primitivo, involuído. Que bom que à história deu-se o papel de consertar algumas bobagens.

Ufa.


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Um comentário:

  1. Anônimo10:38

    hoje sonhei com você.
    Tinha um lenço de bolinha brancas com negras.
    me deu saudades : (

    a.p.

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