17 junho 2008

São Paulo - Milão (747)

Lentamente.Como se cada momento fosse tão único, tão IRREMEDIÁVEL, que seria preciso vivê-lo assim, lentamente.Talvez essa fosse mesmo a última vez que ele abria aquela caixinha opaca, tão opaca quanto a sua pele, a vividez das suas "janelas". Cabelo branco, todo branco, desgrenhado, sujo, daqueles que não sabem se cuidar quando viajam sozinhos. Ou nunca souberam, ainda mais agora, quando a areia já esfarela embaixo dos pés precipício abaixo.Sozinho.Deve doer.Lentamente. Nem encostou no bolo. Deve ser diabético. Tomou três, três ou quatro. Uma redonda rosada e duas amarelas. Engraçado. COLORIDOS. Pq catzo eles insistem em usar cores?!Devagar.Primeiro a bandeija pro lado. Fecha a mesinha. Como se fosse pra sempre lentamente. Como se a pressa fosse um inimigo tão voraz que a única forma de combatê-la fosse assim... indiscriminadamente slow motion. Reprise. Pedaços de memória, cacos de vidro mastigados, cores, dores, datas, perdas... porta-retratos vazios... feli (c/z) idade?A gente vive muito. Até demais. Como se o prazo de validade vencesse e a gente continuasse aqui, enrolando... perdendo o glamour, a frescura, o brilho. Pra sempre entes opacos. Pedaços de vida esfriando, endurecendo.
Tá vendo?! Faz tanto sentido...A gente ralenta pq a vida é fria e dói, mas já foi tão boa um dia (naquele dia que nunca é hoje, e é sempre aquele ontem que passou tão rápido que a gente nem viu) que a gente goza já nos créditos iniciais.
Placebos.
Pequenos biscoitos pro cão obediente. Fiel sempre. Que apanha mas finge de morto e rola quando pedem.
Às vezes achos que somos as mulheres mais escrotas de Nelson Rodrigues, dessas que adoram uma bela surra... E resistimos....sempre lentamente.

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