27 julho 2009

portão 12

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Ela não chegou a cogitar uma feliz possibilidade do acaso.
Andou aquele saguão, então, como se fosse mão única, a sua carta na manga, o seu blefe perfeito.
Descortinou a sua franja para ampliar o seu campo de visão, mas também para que ele entendesse a sua linguagem.
Desfilou as suas pernas por aqueles breves metros com uma leveza que era só dela e de suas proporções.
Pensou se ainda estaria sendo observada. Certa de que sim, tirou um cigarro do maço e perfilou o rosto para acendê-lo.
Claro. No canto do olho direito ainda estava aquela amarga coincidência, que se destacava em um borrão perfeitamente reconhecível do resto-pastiche.
Cabelo grisalho nas têmporas. Olhos de curvas. Nas suas curvas. E ela sabia.
Sentiu o caminho inverso daquele mesmo arrepio, que terminou na sua última e mais perigosa vértebra. Na ponta, do fim da sua linha condutora emanou uma onda de calor que a enrubesceu como há muito ele não fazia.

Aquele olhar perdia tempo nos seus detalhes.

Sem razão alguma lembrou daquele beijo que deixou no espelho como um testemunho, uma prova. Sim, ela estava linda... mas não para ele. Para a chance.
Sentiu o sol daquela fresta lhe acalmar os ânimos, mas o frio a assustou.
Não era frio na barriga, era vento no peito. O vazio. O Talvez.
Deixou o borrão virar um pequeno grão indistinguível e seguiu em frente.
Pensou nas estatísticas, nas chances, nos números.

Mas...e se fosse ele?

Parou, intacta. Olhou para os lados, e contou até dez.


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3 comentários:

  1. Adorei a brincadeira!

    Quero saber o resto da história!

    Beijos

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  2. Arrepios, nada melhor na vida!

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  3. suuuuper!
    aguarde cenas do prox capitulo.
    bjs amiga.
    te quiero.

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