14 janeiro 2009

Famiglia A.B.



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Muitas, ou quase todas as informações que se relacionam a nós, e exclusivamente a nós, são mutáveis. Caráter, humor, instintos, corte de cabelo, cicatrizes, estado-civil, estado anímico, amigos, moral, ética, profissão, saúde, religião, conta bancária e até mesmo a índole podem e vão mudar enquanto o tempo passar e as nossas histórias se desenharem sobre ele.

Existe uma COISA porém, que não muda nunca. Uma só COISA que é a base de absolutamente tudo: a nossa cadeia genética. É essa COISA que define, pelo menos fisicamente, tudo o que seremos para o resto de nossa existência. Essa não muda nem com muita plástica, ioga ou escova progressiva. Você é uma cadeia de informações e disso não há como escapar.

Se pararmos pra pensar com inocência e esquecermos todas as aulas de genética do colegial, é muito, mas muito cômico imaginar que o processo de criação dessa COISA se dê em uma situação tão humana e mundana quanto o sexo. Ali, onde quer que fosse; de pé, de quatro ou no fulgor de uma rapidinha, papai e mamãe geraram através de um orgasmo (veja bem, um orgasmo!), informação suficiente para criar mais um deles. Rá! É quase uma piada!

Mais inacreditável do que isso: se a divisão é feita em partes iguais, e se mamãe tem direito a me doar as suas madeixas louras assim como papai tem de me dar seus incríveis olhos azuis... em que esfera se trava essa luta de genes? Quer dizer que é uma loteria, essa brincadeira?!

Independente das circunstâncias da minha concepção (deus me ajude a nem imaginá-las), fato é que no sexo há sempre uma energia, independente de sua natureza. Sei que a que me gerou só pode ter sido especial, já que o meu sorteio me fez ser parte de um grupo de outras COISAS sensacionais e ainda por cima ligadas geneticamente: a minha família.

Familia então, é o caminho, o cruzamento, a união e a separação das COISAS de todos aqueles que foram gerados por outras energias, mas tão sortudos quanto eu nas suas loterias.

Podemos fugir, nos esconder, brigar, romper laços, quebrar barreiras morais, cristãs, passar natais e mais natais longe uns dos outros... mas a família e todas as suas COISAS permanecem ali: no formato das mãos, na alergia à poeira, nas enxaquecas crônicas e nos narizes com formatos estranhos.

A família está no espelho e é o nosso próprio espelho. Tão inegável quanto cruel na sua ditadura genética; tão crítica quanto segura de sua existência; mas tão irritante quanto deliciosa na fluidez de suas risadas.

Adorei as férias, família! E que sejam bem-vindas as nossas futuras COISAS!

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ps: obrigada, Anna!

6 comentários:

  1. a base da base de absolutamente tudo.
    Nosso suporte, a razão de nossa existência.
    Adorei.

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  2. Anônimo11:18

    Me encanto lo que escribistes, solo me detuve un instante a imaginar como fui concebido, y la verdad me cague la mañana, rs, y si

    Her

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  3. hahaha, te quiero, gorda dramática.

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  4. família, pais... acho que meu post é absolutamente o melhor comentário a fazer no seu blog. Fundamentais, tudo, absolutamente tudo, amor incondicional, independente da forma como demonstram seu amor.
    beijo.

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  5. Você é uma mistura de todos eles, tenho certeza da boa parte deles, e de tudo que tirou desse mundo louco que faz de você incrível!

    Besote nena!

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  6. Anônimo12:52

    Somos prisioneiros de nossos genes, já dizia Baudrillard. Belo texto. Congratulations

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