18 setembro 2009

sobre o não-livro e outras encarnações

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"Ontem estava pensando...
Acho que se vivessemos em outro século, seríamos aquelas amigas que teriam grandes historias contadas por cartas, como se as duas dividissem suas vidasm seus anseios em palavras, em cartas.
Como se morássemos longe e quando morressemos iriam achar milhares de cartas e respostas... quem sabe daria um livro. rs"

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15 setembro 2009

do kundera

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Por uma razão ou por outra, ela estava descontente com ele e, assim como ela era capaz de impregnar a relação mais irreal com o sentimento mais concreto (materializado em uma lágrima), era capaz de dar ao mais concreto dos atos uma significação abstrata e à sua insatisfação uma denominação política

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in O Livro do Riso e do Esquecimento

08 setembro 2009

(d)ela



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Dela tenho um pouco de tudo.
Da cor dos olhos ao tom da voz, sou entre todos, a cria que mais se parece.

Dela herdei o formato do rosto, a cor dos cabelos, o suspiro e a curiosidade.
Nela descobri o significado da elegância, do bom gosto, do mau humor matutino e o prazer da leitura.
Dela tenho as pernas compridas, os olhos pequenos, a orelha rasgada e as sombrancelhas angulosas.
Ela me ensinou que, acima de tudo, está a felicidade (no sentido mais clichê da palavra).
Sempre insistiu nos bons modos à mesa, disse que poderiam me salvar de muitas situações no futuro... e ela tinha razão.
Aprendi a usar o garfo na mão esquerda, a falar espanhol fluentemente, a fazer tortilla de patatas, a usar o "por favor" e o "obrigada" para tudo o que faço na minha vida.

Com ela aprendi que a inteligência não serve de nada sem cultura, que a cultura não serve de nada sem referências, e que as referências só se adquirem com olhos curiosos.

Ela me mostrou muitos mundos e todos com o mesmo respeito: o mundo dela (que também é meu), o nosso (que também é dela), e todas as realidades paralelas a minha, sempre fincando os meus pés no chão para saber escolher.

As asas ela sempre soube que eu tinha, mas nem por isso me prendeu ao pé da cama: me ensinou a usá-las (a contragosto, sim) e me avisou que um dia "o meu circo ia passar".

Gosto dessa foto. Ela passou muitos anos na minha carteira, até que um porta-retrato a chamou para habitar a minha sala. Nariz do Fran, meio-sorriso da Patri e nesses olhos um mundo inteiro de possibilidades.

Saudades, mamá.

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27 agosto 2009

sobre o lixo

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Desde que vi ´Gomorra´ mudei drasticamente a minha percepção sobre o lixo. Ao contrário da grande maioria que viu o filme, o núcleo que mais me choca é o da máfia que negocia o escoamento do lixo tóxico industrial controlada pela Camorra italiana. Fiquei muito (MUITO) impressionada com a serenidade e naturalidade com que é negociado todo o trâmite.

É assim: a empresa produtora desse tipo de detrito é abordada por uma outra que promete tomar conta do “trabalho sujo” sem permitir que o seu cliente chegue perto de colocar as mãos (cobertas de pelica) na merda. Apenas no bolso. Literalmente.
O preço atrai e a oferta parece boa demais para ser “limpa”, mas a terceirizada garante “papéis brancos” e legalidade. “Fazemos como na América, we keep it clean.”

Ufa, aí sim.

A Camorra contrata trabalhadores do campo para enterrar o lixo venenoso num canto qualquer nos arredores da Campânia, a principal região onde a máfia atua. Os filhos da puta consultam estudos topográficos que dizem onde a natureza falhou (qualquer precipício, aterro ou mina resolvem o problema) e lá enterram toda a merda em um rápido e barato esquema de disfarce. Lavou, tá novo. Depois de pronto parece que nada passou por ali.
Et voilà, they kept it “white”.

Existe uma triangulação territorial nessa região entre as cidades de Giugliano-Villaricca-Qualiano que possui 39 aterros, dos quais 27 são de materiais de alta contaminação. Mas não tem problema... encheu? Toca fogo! Gente, em época de aquecimento global tem mais é que reciclar, néam? O mais assustador é que mesmo assim, o território aumenta 30% ao ano em metros cúbicos. TRINTAPORCENTO.
Bobagem mencionar que a terra torna-se cada dia mais estéril e que a mortalidade por câncer aumentou 21% nos últimos anos.

Ainda na reciclagem; depois de terem sido usados até o talo, queimados, enchidos outra vez e reutilizados até a podridão completa do solo, os clãs mafiosos conseguiram transformar esses lugares em terrenos edificáveis. Assim levantam graciosos aglomerados de casinhas vendidas a preços baixos. Ó que amor?
Mas porque mesmo lembrei disso?

Ah sim... por isso:



Importação nos tempos da crise

Li na Piaú um artigo ótimo e conciso sobre o lixo que aportou em Santos em forma de 4 contâiners pesando o total de 1.600 toneladas (sim, coloque muitos zeros aí) vindo da Inglaterra. Sucata doméstica, refugo industrial, sobras de comida e muitos vermes comendo a matéria orgânica em decomposição.

Destaque para a piada pronta: dentre os restos, encontraram caixas de dvd com o rótulo do Conselho Nacional de Pesquisa sobre o Meio Ambiente Britânico que continham documentários sobre a mudança climática do mundo. Palmas para todos.

É quase uma figura de linguagem resumida a uma imagem. Podíamos batizar, né? Tipo, hiper-pleonasmo-metonímico.

Eu imagino os funcionários portuários abrindo as portas da adorável remessa:

- Alô, seu Jaime. Então… er... o senhor não quer dar um pulo aqui?

Ninguém sabe, ninguém viu. Esse quase imperceptível volume fétido navegando mar afora, desbravando as águas oceânicas não tinha pai nem mãe nem muito menos o espírito santo.

O resumo da história é que o Brasil enterra a tonelada de lixo pela “pechincha” de R$ 45. Dez vezes menos do que no Reino Unido. Que tal? É o país exportando a sua expertise, meu Brasil!

Aposto que existe um canto do Acre pronto pra ficar atoladinho.

O mais legal é que consta registrado que o Brasil já chegou a importar 466,6 toneladas de pneus carecas ingleses. Oi? Pra quê mesmo? Ah, sim! Para unirem-se às caudalosas águas do rio tietê-em-flor.

Mas pelo visto esse leva e traz de containers podres, premiados como kinder-ovos não é exclusivo de paraísos naturais em desenvolvimento como o nosso, mas também de países tão europeus quanto a Alemanha. Ela tem um “défciti de merda” de 4 milhões de tonelada para abastecer as suas usinas termelétricas movidas a resíduos e compra o lixo camorrano da Itália pela salgada oferta de 250 euros a tonelada. Scheiße! Quase 14 vezes mais do que gastamos para enterrar aqui no Brasil.

Justo. Afinal, eles comem Barilla.

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29 julho 2009

art can help this

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um respiro:

A sober and a quiet mind is one in wich the ego does not obstruct the fluency of things that come in through the senses and up through one´s dreams.

Our business in living is to become fluent with the life we are living, and art can help this.

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27 julho 2009

portão 12

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Ela não chegou a cogitar uma feliz possibilidade do acaso.
Andou aquele saguão, então, como se fosse mão única, a sua carta na manga, o seu blefe perfeito.
Descortinou a sua franja para ampliar o seu campo de visão, mas também para que ele entendesse a sua linguagem.
Desfilou as suas pernas por aqueles breves metros com uma leveza que era só dela e de suas proporções.
Pensou se ainda estaria sendo observada. Certa de que sim, tirou um cigarro do maço e perfilou o rosto para acendê-lo.
Claro. No canto do olho direito ainda estava aquela amarga coincidência, que se destacava em um borrão perfeitamente reconhecível do resto-pastiche.
Cabelo grisalho nas têmporas. Olhos de curvas. Nas suas curvas. E ela sabia.
Sentiu o caminho inverso daquele mesmo arrepio, que terminou na sua última e mais perigosa vértebra. Na ponta, do fim da sua linha condutora emanou uma onda de calor que a enrubesceu como há muito ele não fazia.

Aquele olhar perdia tempo nos seus detalhes.

Sem razão alguma lembrou daquele beijo que deixou no espelho como um testemunho, uma prova. Sim, ela estava linda... mas não para ele. Para a chance.
Sentiu o sol daquela fresta lhe acalmar os ânimos, mas o frio a assustou.
Não era frio na barriga, era vento no peito. O vazio. O Talvez.
Deixou o borrão virar um pequeno grão indistinguível e seguiu em frente.
Pensou nas estatísticas, nas chances, nos números.

Mas...e se fosse ele?

Parou, intacta. Olhou para os lados, e contou até dez.


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09 junho 2009

en un lugar de la mancha de cuyo nombre no puedo acordarme

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Tive a sorte de falar espanhol como minha segunda lingua desde que me entendo por gente. Gosto de falar mais de um idioma, sou fã absoluta de todas as formas de comunicação e daquele tipo de pessoa que vibrou em insights na aula de linguística e semiótica do Dallari na PUC. Adoro entender o jogo, o quebra-cabeça. Para mim esse sim, é o grande diferencial entre nós e os grilos, por exemplo.

Essa intimidade com o idioma se deu em muitos momentos, em muitas esferas. Minha mãe, nativa "chica del norte", me brindou o sotaque mais puro que poderia ter aprendido, o de Castilla y León na Espanha. Depois de muitos verões ibéricos, infância e adolescêcia frequentando um grupo de nativos contemporâneos, virei um deles. Joder, macho! Só quem realmente me conhecia sabia dos meus pequenos deslizes, uma consoante muda pronunciada pela metade, um sotaque mal colocado, uma gíria do verão anterior.

Depois veio Cuba. Acere...o berço da fonoaudiologia no mundo, ao meu ver. Nunca vi povo pra comer sílabas que nem esse. Levei uns cinco almoços no bandeijão da escola pra entender que querarô (sem entonação de interrogração) era só a atendente me oferecendo uma colherada de ARROZ e não alguém pedindo o meu RG. O bom de Cuba foi que lá conheci o espanhol colombiano, argentino, equatoriano, boliviano, portorriquenho, peruano e... aaah, o chileno.

O chileno é difícil pra porra também, mas com um charme, uma rapidez inteligente, un raciocíonio sagaz e charmosamente cantado com indignação. É óbvio que como sou uma apaixonada pelo fenômeno da comunicação, caí de quatro pelo sotaque mais questionador e sensual da minha turma. Gonzalo, ou El Perro. Claro, a barba malfeita e olhar de "bombacha" ajudaram (sempre ajuda, né Clau?).

Amei mais de um ano e meio aquela toada chilena, aquele "po, gueon" e o meu amado "guachita", que sempre me derreteu.
Os modismos colaram, as gírias já eram parte da rotina do meu idioma e minha mãe se queixava pela casa dizendo que "Cervantes estava se revirando na tumba com o meu espanhol corrompido" quando eu conheci a Cuatro Cabezas. Aí fodeu.

O homem argentino é, por natureza, uma espécie preguiçosa de hommo sapiens no âmbito comunicacional. Trabalhando então; não tem nenhuma dó. Falam como matracas na sua conjugação diferente de tudo; e quando o TU vira VOS... meu amigo, é melhor VOCÊ aprender rápido, pq senão perde o bonde.

Na Cuatro Cabezas ninguém se esforçava muito pra te entender e se vc bobeava um pouco o produtor executivo virava as costas e te colocava pra falar com o eletricista:

- Mirá qué quiere la nena que no entiendo un carajo.

E assim você ia passando de carão em carão, até que um dia você se enchia e mandava com todas as letras no meio do set:

- Che, deja de hacerte el pelotudo y ayudame con este quilombo que tengo acá... dale, campeón.

Ahi todos riam e você passava a fazer parte dos hispanohablantes funcionais. Uma pequena vitória, ainda mais para uma mulher. :P

Eu ainda tive a sorte de que o meu grande amigo também conhecido como El Turco, Hernan, Her, La Gorda, Hernani ou Fernando… além de ser argentino, tem consideráveis problemas de dicção. `As vezes é difícil acompanhá-lo até o final das frases e eu pareço uma tia velha tentando leitura labial. O português dele é um pouquinho preguiçoso (ele namora uma outra hispanohablante funcional, a Bela Clau), mas desde que ele aprendeu a conjugar o verbo “fazer” a gente se entende muito bem. E melhor, num portunhol que é só nosso.

Ainda hoje tenho prazer em compartimentar o meu cérebro em sotaques diferentes em determinadas situações. Acho divertido, - me sinto meio atriz, rs -, e dou graças a minha mãe por fazer hoje com os meus sobrinhos o que fez com os seus três filhos.

Em tempo, não há forma mais bonita de dizer “eu te amo” do que “te quiero”.

Gracias, Mamá!


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02 junho 2009

01 junho 2009

Cassandra diz:

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Às vezes gosto de como conversas despretenciosas de messenger (ou "nonversations") se transformam em imagens potentes assim, no meio da tarde.
Cassandra ainda é um mistério pra mim (ironia e doçura em forma de curvas) mas a cada dia a conheço um pouco mais. Hoje ela me surpreendeu com esta linda confissão.




Cassandra diz:
nossa gata eu to com dor de estômago e dor de barriga de nervoso como se fosse eu que estivesse no aeroporto, decolando dentro de 35 minutos para a europa....

Cassandra diz:
n é a primeira vez q me coloco no lugar de alguém e fico sentindo as emoções, mas faz tempo q n sentia, pois tenho controlado isso mto bem.

Cassandra diz:
eu tenho um lado que é meio pira demais, meio brega e meio viagem de ácido que costumo esconder, mas tenho essas coisas de as vezes sentir o q as pessoas sentem em situações q nunca vivi... e tenho uma coisa de qdo amigos mtos próximos fazem certas coisas parece que fiz um pouco tbm, sabe? tipo... a Cassandra q vive em vc já foi a ny, a q vive no henrique vai ver a europa... umas viagens bizarras da

Cassandra diz:
minha cabeça meio enlouquecida

Cassandra diz:
deve ser pq eu sempre levo essas pessoas queridas comigo e pq qdo era criança eu realmente imaginava essas pessoas comigo... pessoas q eu já conhecia ou q imaginava um dia conhecer.

Cassandra diz:
aquela história do meu post, de sentar no canto do banco do carro, ou bem no meio, para dar espaço aos meus amigos é verdade.

Cassandra diz:
pensando bem acho q serei aquelas velhas parecem que falam sozinhas, sabe?

Cassandra diz:
e como eu piro em fotos de pessoas q nunca conheci, por exemplo, fotos do salvador dali com a gala num barco qquer, serei uma velha que é a melhor amiga do dali e vou trocar várias idéias com ele e com vários outros....

.dedee. diz:
posso postar tudo isso que vc me disse no blog?

.dedee. diz:
que lindo

.dedee. diz:
nunca ouvi essa piração de ninguém

.dedee. diz:
e me pareceu tão sincera e bonita...

.dedee. diz:
que queria compartilhar com pessoas....

Cassandra diz:
claro que pode, eu adoraria poder postar isso, mas estou travada demais, então por favor, faça isso por mim

.dedee. diz:
vou postar tal qual, tá?

Cassandra diz:




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26 maio 2009

Ditados de uma geração na (em) crise II


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Acho que a gente tem um problema de timming.
(Você é analógica... eu sou digital.)

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9.10.2008 - 16h20

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Cheiro de grama cortada, bem verde. Cheiro, luz, humidade e o barulho das folhas secando.
Gosto deste parque.
Ao longe uma buzina. A 10 metros um home run. Um senhor de cabelo branco deitado na grama estica suas pernas confortavelmente e descansa sua cabeça sobre os seus tênis. Música no shuffle, é claro.
Muitas crianças aprendendo a andar. Muitos adultos reaprendendo a só deitar na grama.
Um "oui" aqui, uma carruagem acolá. Uma maçã meio mordida, um freezbe descontrolado, esquilos subindo e descendo em árvores e uma noiva chinesa de mão dada com o seu prometido; linda, montada e virgem... calçada em seus melhores pares de nike.
A luz já está indo embora e a sombra já chegou em mim. Acho que é hora de ir.


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20 maio 2009

às terças (ou o primeiro beijo)

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Este é o primeiro beijo da arte ocidental. Não é incrível?!

Em primeiro plano estão Sant´Ana e São Joaquim (para os ateus: pai e mãe da pobre Virgem Maria) em representação de uma passagem do Evangelho apócrifo de S. Tiago onde os dois se reencontram depois de 30 dias separados. O encontro é dos mais tenros: mãos, olhos e bocas se confundem e preenchem nesse espaço os vazios numa composição forte (quase piramidal) sem a alteração dos tamanhos dos personagens (os protagonistas eram representados em maior tamanho que os secundários).
O "Encontro de São Joaquim e Sant'Ana", faz parte dos afrescos da capela de Scrovegni, na Arena de Pádua, e é considerado por unanimidade como o expoente máximo da maturidade artística de Giotto.
Aliás, falando nele... Giotto foi um cara importante.
É com ele que as figuras humanas começam a adquirir uma individualidade imagética diferente de tudo que tinha sido produzido na arte bizantina até então(figuras planas quase pictóricas sem nudez, volume ou dimensões). Ele levou à pintura a narrativa pelo gesto, pela expressão que não era cogitada desde que o conceito de beleza greco-romana caiu por terra com a ascensão da Igreja Católica (império cristão, na verdade). Quer dizer, o que o cara fez, basicamente, foi usar o que ele tinha a seu favor de forma inteligente. Todos os corpos continuavam cobertos, mas o movimento foi resgatado através das pregas dos tecidos, da sombra, do claro-escuro que concede VOLUME e maior naturalidade à representação. Demais.
Ele também deu uma atenção especial aos olhares, às expressões à troca entre os personagens... ou seja, ele “contava historinha” a sua maneira.
Tudo isso pode parecer bem "inocente" aos nossos olhos inundados de tantas referências visuais/virtuais, mas se pararmos pra pensar que a arte naquele então era a única mídia existente (e que não necessariamente tinha uma áurea de sacralidade por ser “arte”)... o cara revolucionou.
Imaginem o que era isso! Em um mesmo lugar tinha-se que dar espaço à tudo: troca de favores políticos, o didatismo necessário que a igreja exigia, à técnica e ao toque genial da junção da “fórmula” com o talento.

E nóis twuitando. Afe.


O espaço, como se vê, é absolutamente simbólico. As proporções são de mentirinha e tudo parece uma grande (pequena) maquete. Nada por acaso: pra se virar nos 30, ele tinha que mostrar o óbvio, por isso a arquitetura e as paisagens parecem cenários, papéis de parede para A grande encenação teatral dos seus rostos e expressões. Espertinho.

Os renascentistas que vieram depois, cheios de marra e certezas, consideraram Giotto um pintor primitivo, involuído. Que bom que à história deu-se o papel de consertar algumas bobagens.

Ufa.


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19 maio 2009

16 maio 2009

da série "coisas que me fazem bem - volume II"

Amo, amo as "não-fotos" e os momentos "péra! tá gravando!". A pose fica lá... por alguns segundos quietinha esperando um clic libertador.

Normalmente manda-se o fotógrafo `a merda e a foto de verdade nunca é tão fofa quanto o vídeo errado. Confira.






"Agora vai, sorriam!"



Aqui já tem aquele sorrisinho meio seco que sempre acaba entortando a boca e faz vc SABER QUE VAI sair péssima na foto.


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15 maio 2009

da série "Coisas que me fazem bem - volume I"



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Essa é uma das minhas vistas preferidas da vida. Já sentei nessa janela por hoooras a fio e essa imagem já é um daqueles pequenos cuts que vão passar como filme na hora da minha morte.

Mãe? Pai? Check!
I Dit It My Way de trilha? Check!
Textura 8mm? Check!
Piscina de bolinha,? Check!
Sobrinhos, a Lady, guerra de cuspe com a Patri e luta livre com o Fran, risadas e aquele pôr-do-sol de 2001 que eu prometi nunca mais apagar do meu cérebro? Check!

Esse pedacinho de pinheiros/perdizes, esse bendito quarteirão onde já me roubaram dois carros, uma camera, 10 horas de TCC e algum resto de dignidade `as 6 da manhã… é tão familiar aos meus olhos que fico até com saudade.
Estar diante desses prédios pálidos de céu curto e árvores apertadinhas significa estar em uma das melhores companhias e em um momento de afeto sempre grande.
O quarto da Thata tem uma parede que flica (flika?) em vermelho e azul, um baú amarelo, livros, quadros, fotos, mais livros e uma cama colada ah janela. Naquela cama onde sentamos para papear, rir muito (muito), chorar, ler e calar… eu me sinto muito bem e presente.
A porta e toda aquela sua manha de fechar, os beatles balançando atrás, e aquelas fotos que só grandes amigos são ainda capazes de guardar (e olhar). Tem um toque só dela, e detalhes que não percebe “mimar” que fazem toda a diferença. As cartas da clau, os poemas daquele outro, as redações que ganharam conrcursos. Ela lê, entona, choramos de rir. Falamos das desgraças, contamos um causo de "café da firma", elogiamos aquele garibe, repassamos as novidades do front e terminamos sempre com um "tchau, passarinha".

O tempo é tão leve, passa, vai. Ela faz as coisas parecerem mais simples, até de longe.

Saudades, Douglas!

08 maio 2009

27.9 - 06h40

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Engraçado. Não foi nem pq. eu tenha lembrado da sua pergunta (sobre o 1o. cheiro) mas assim que saí da imigração, ou melhor, da vistoria das malas na alfândega (pq aparentemente uma mulher viajando sozinha just for fun é um potente alvo de prostituição)... senti aquele cheiro de Miami. Aquele mesmo do aeroporto, do táxi, dos malls. Acho que é uma mistura de café aguado com bagel, mas ao mesmo tempo um toque de "gente" com humidade. Quando é que esses americanos vão desistir de colocar carpete em tudo?
A viagem foi cansativa. (uou! esta folha é realmente incrível de escrever!!!) Uma pobre senhora, sentada há uma poltrona de mim, passou mal e foi socorrida dentro do banheiro, que humilhação. Pressão baixa e cara de cu dentro de um cubículo. O marido, que não parava de gravar tudo e todos, ficou preocupado e pediu para a atendente chamar um médico pelo alto-falante (isso tem hífen?). Ele e ela tinham a maior cara de solidão do mundo, mesmo de mãos dadas.

na revista:
"Na tua ausência me perco na liberdade que só a solidão pode oferecer."


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07 maio 2009

linha de chegada

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Ela 1: - E aí amiga, hay garibes?
Ela 2: - Ah, o Jefferson... né?
Ela 1: - Correndo por fora...?
Ela 2: Não, nem isso. Tá com o motor engasgado.
(risos)
Elas: ...
Ela 1: - Mas será que não resolve uma chupeta?
(risos, risos, risos)


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04 maio 2009

unidunitê

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Um texto didático e pontual sobre o "vazio". Vale muito a pena ler na íntegra aqui, mas separei o que considero mais esclarecedor.


"Imagine a day in the life of a couple you probably know. He’s 27 years old, and she’s 26. They wake up beside each other in his downtown bachelor apartment and have sex that neither of them particularly enjoys. They’ve been sort-of dating for a while now, but they’re not willing to commit to each other: he likes her, but doesn’t know if he always will. She can’t decide if she likes him more or less than the other two guys she’s sleeping with.

He bikes to work at an advertising agency, where he uses his master’s in English to proofread ad copy, and spends several hours reading music blogs and watching movie trailers, periodically Twittering updates about his workday to his 74 followers. He doesn’t really hate his job, but feels as if his skin is crawling with vermin most of the time that he’s there, so he has a plan to move to Thailand, or to maybe write a book. Or go to law school.

At her government job, she instant messages her friends and mostly ignores the report she’s drafting because she’s planning on quitting anyway — and has been planning to quit for about a year now. She spends her lunch hour buying boots that cost slightly more than her rent, then immediately regrets it.

He listlessly works through lunch, then goes to the bar after work to meet up with some university friends, where they talk about their jobs and make ironic jokes about other people. Back at home, he wonders why he feels so gross and empty after spending time with them, but it’s mostly better than being alone.

She walks to the house that she shares with three friends and spends a few more hours on celebrity gossip websites, then clicking through the Facebook photos of girls she knew in high school posing with their husbands and babies, simultaneously judging them and feeling a deep pit of jealousy, and a strange kind of loss. “When did this happen for them?” she wonders.

They both eventually fall asleep, late and alone, each of them wondering what it is that’s wrong with them that they can’t quite seem to understand.

This phenomenon, known as the “Quarterlife Crisis,” is as ubiquitous as it is intangible. Unrelenting indecision, isolation, confusion and anxiety about working, relationships and direction is reported by people in their mid-twenties to early thirties who are usually urban, middle class and well-educated; those who should be able to capitalize on their youth, unparalleled freedom and free-for-all individuation. They can’t make any decisions, because they don’t know what they want, and they don’t know what they want because they don’t know who they are, and they don’t know who they are because they’re allowed to be anyone they want.

When a contemporary 25-year-old’s parents were 25, they weren’t concerned with keeping their options open: they were purposefully buying houses, making babies and making partner. Now, who we are and what we do is up to us, unbound to existing communities, families and class structures that offer leisure and self-determination to just a few. Boomer and post-boom parents with more money and autonomy than their predecessors has resulted in benignly self-indulgent children who were sold on their own uniqueness, place in the world and right to fulfillment in a way no previous generation has felt entitled to, and an increasingly entrepreneurial, self-driven creation myth based on personal branding, social networking and untethered lifestyle spending is now responsible for our identities."


O texto fala basicamente sobre os efeitos dos vintepoucos; incerteza, dúvidas, medos... e (eu sempre bati nessa tecla) EXCESSO DE OPÇÕES.

Eu nunca fui muito a favor dessas teorias coletivas de gerenciamento de decepções. Por exemplo: "ah, tudo bem, é culpa da crise dos vintepoucos... já já passa". My ass. Nêgo adora um neologismo, uma sigla (eu sou DDA, eu tenho TOC) ou uma simples matéria comportamental na Veja dessa semana para definir padrões, até os irregulares. Padrões irregulares, como os verbos, são difíceis de estruturar e encaixar no contexto quando não se sabe sua flexão (alias: flexibilidade).

Dou o braço a torcer, porém, e retomo uma criteriosa observação sobre o que já podemos chamar de "2009-cursado". Segundo uma amiga, a Lívia, alguma fucking lua deve estar retrógrada, reticente ou reincisiva nessa merda cármica de 2009. Particularmente, 2008 foi pior, mas este ano letivo não tá dando brecha pra ninguém, não. Separações, divórcios, volta para a casa dos pais, desilusões, perdas, choros engasgados em pistas de dança e sexo, drogas e rock'n'roll vazios... gentê, o fauno tá solto! Pq hoje em dia nem as bruxas estão dando conta dessa putaria cósmica que eu intimamente chamo de "purgatório astral".

Se for breve, que venha, derrube, arraste e varra daqui essa preguiça. Eu quero é mais engolir todas essas opções e regorgitar um menu de auto-indulgencia só meu. Enquanto isso, "é melhor ficar onde se está", como diria o Nichan, e observar. As dores devem ser vividas e as alegrias gozadas no seu tempo. As situações precisam decantar. Inclusive as Vênus mais botticellescas.

Ver e ouvir mais. Falar e opinar menos.

Enquanto isso, é bom olhar um pouco ao redor e flertar com mundos alheios e complementares. Acho que essa mesmice-azul, por ser jovem e não ter a camada de pó das decepções da "meia-idade", ainda tem o poder de enrubescer a cada mundo descoberto.

"Deixe acontecer, Diana. Fique onde está. De preferência com os pés bem fincados no chão."


ps: produçãããão, alguém trouxe a cordinha de cena?!



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