25 abril 2010

da série: exercícios de escrita criativa - 8

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Premissas: utilizar um personagem criado por um dos colegas em sala para um texto livre, com a criação de um perfil determinado. Usar 10 sinônimos da palavra "ver".

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Sexo 2.0

(03:36:14) Gina entra na sala...
(03:36:15) Mauro entra na sala…
(03:36:15) Mauro fala para Gina: oi
(03:36:17) Ortopedista/28 entra na sala…
(03:39:19) Ortopedista/28 fala para Gina: olá, como vai? De onde tc?
(03:39:21) Só de toalha_44 fala para Gina: Oi, tem msn? Quer tc? Esse nome dá rima, hein?
(03:36:24) Gina fala para Ortopedista/28: Olá, eu tc de Pinheiros, e vc?
(03:39:25) Ortopedista/28 fala para Gina: Olha! Somos vizinhos, eu tc da Vila Madalena. Qtos anos vc tem?
(03:36:26) Gina fala para Ortopedista/28: Da vila? Coincidência, eu vivo lá. O Filial é a minha segunda casa além do meu consultório ser na Aspicuelta.
(03:36:32) Gina fala para Ortopedista/28: Tenho 29.
(03:39:34) Ortopedista/28 fala para Gina: Jura? Eu vivo no Filial. Já devo ter te percebido por lá. Você é médica também?
(03:36:43) Gina fala para Ortopedista/28: Sou psicóloga. Vamos para o msn? Me add: gina_1978@hotmail.com

Gina diz:
Oi

Marcão_ positive vibrations diz:
Hmmm… 32, safadinha...

Gina diz:
É. Tenho…

Marcão_ positive vibrations diz:
Eu curto mulheres mais velhas ;-) Psicóloga… de que tipo?

Gina diz:
Sou fenomenologista.

Marcão_ positive vibrations diz:
Oi?

Gina diz:
Ah, é difícil explicar, mas é uma corrente da psicologia fundada na idéia da intencionalidade da consciência levada à análise da estrutura essencial da ação, sabe? Tem uma pegada junguiana, mas com uns traços mais de psicanálise mesmo…

Marcão_ positive vibrations diz:
Sei. Tem divã?

Gina diz:
Tem, se quiser.

Marcão_ positive vibrations diz:
Hmmmm. Sexy. Como você é?

Gina diz:
Ah… normal. Não chamo muito a atenção. Tenho 1,63m, 58kg, cabelo escuro (não preto) na altura dos ombros e olhos castanhos.

Marcão_ positive vibrations diz:
Tem foto?

Gina diz:
Ahã.

A transferência de gina_1234.jpeg foi concluída com sucesso

Marcão_ positive vibrations diz:
Nossa… tá de parabéns! Sabe que você me lembra muito a minha mãe?!

Gina diz:
 … você disse “mãe”?

Marcão_positive vibrations diz:
Pô, é um puta elogio! A minha mãe é uma gata pra idade dela.

Gina diz:
Sei :-O

Marcão_ positive vibrations diz:
Não vem com Édipo-bullshit, não.

Gina diz:
Eu não disse nada.

Marcão_ positive vibrations diz:
Vocês psicanalistas são todos iguais. Aposto que vc tá me analisando desde que te chamei para tc.

Gina diz:
Eu ganho pra isso, gato. Não costumo trabalhar de graça para alguém que conheci num chat erótico.

Marcão_ positive vibrations diz:
Uuuh…. Afiadinha.

Gina diz:
Você nem imagina.

Marcão_ positive vibrations diz:
O que vc está usando?

Gina diz:
Lingerie preta e cinta-liga.

Marcão_ positive vibrations diz:
É sério?

Gina diz:
Claro que não.

Marcão_ positive vibrations diz:
Ahn?

Gina diz:
Você mora sozinho?

Marcão_ positive vibrations diz:
Moro.

Gina diz:
Eu estou usando um vestido estampado com flores de cerejeira. Um pouco acima do joelho.

Marcão_ positive vibrations diz:
É fácil de tirar?

Gina diz:
Só olhando.

Marcão_ positive vibrations diz:
Vc tem webcam? Queria tanto te observar...

Gina diz:
Tenho carro.

Marcão_ positive vibrations diz:
:-P****

Gina diz:
...?

Marcão_ positive vibrations diz:
Sério? Uau.... R. Girassol, 669. 5º. Andar. Vou deixar a porta aberta. Entra direto.

Gina diz:
vc tem álcool gel?

Marcão_ positive vibrations diz:
Não, mas tenho camisinha e KY. Serve?


73, 74, 75, 76, 77...

Toc toc.

78

79

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81

- Oi. Marcão?

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créditos: Foto Albano Afonso

05 abril 2010

da série: exercícios de escrita criativa - 5

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Premissas: 1 epifania, 1ª. pessoa do masculino, 20 palavras começadas com "v" e 10 com duas sílabas em "i"


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Ziiip.

A sexta-feira era de folga e eu sentia a casa só minha. Vagaroso e sonolento em pleno meio-dia, não soube dizer se o melhor era fazer faxina ou pagar contas atrasadas. Fitei o gato no sofá, vagabundeante sob a máquina de escrever como só ele consegue ser em manhãs muito quentes, e sem vacilo decidi que o melhor seria encarar o gaveteiro de Pandora. Três fundas gavetas negras de profundidade incalculável: um violento volume de vida de quase 10 anos de acúmulo caótico nunca organizado.

Escolher o gaveteiro dentre o iminente é o que eu chamo de procrastinação transferida. Quase nunca faço o que verdadeiramente preciso e sempre que possível, postergo o mais urgente. É o meu pequeno - e vergonhoso - protesto contra esta vidinha burguesa de vencimentos condominiais e endereços de assistências técnicas presos à post-its no espelho vaporoso do banheiro. Sinto-me alma livre que, ao invés de ticar, vaidoso e capricorniano, um dos itens da sua lista de afazeres semanais, opta por outra obrigação, das que nem temos coragem de anotar; a faxina de um decênio.

Sem uma gota de pressa, comecei pela última das gavetas. Sou dos que lêem revistas pelo final e eventualmente pulo para o fim dos livros antes do tempo. “Não acredito em finais felizes”, disse a mais de uma em tom voraz, mais ridículo do que convincente. Mas a escolha viria a calhar; entre Playboys voluptuosas e binóculos voyeristas, descansava em pó um estojo azul anil abarrotado de lápis de cor. Eram quase uma centena; velhos, carcomidos nas pontas, com colas de física em minúscula caligrafia. Em um canto, no fundo, o meu apontador em formado de globo terrestre. Há quantos anos eu não apontava um lápis? De pronto, de susto, um violento impulso pueril pôs em marcha um reflexo motriz desses que guardamos em músculos ainda infantis. Lixeira entre pernas, pus-me a apontar todas as tonalidades possíveis por minutos a fio numa repetição de movimentos que há muito meus dedos não viviam.

Vinte e três minutos e 78 cores depois, só o prazer de duas grandes e vistosas bolhas no polegar e dedo médio seriam provas vivas de minha paz de espírito. Que deleite! Que prazer! Com que rapidez perdemos as obrigações irrefutáveis da infância? Quando é que nos desapropriam da certeza do óbvio? Sob qual desculpa escolhemos afiar os comentários ao invés de pequenos pedaços de madeira? Com o vigor de uma mente em branco, lembrei de ser criança e rabisquei a conta de luz com feixes de todas as cores.  Fechei a gaveta, liguei o som e cantei muito, muito alto.

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créditos: Foto Olivia Bee

21 março 2010

pioggia, ancora.

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É o segundo domingo que chove dourado. Seguido.
Eu sou cética e objetiva para muitas coisas, mas em um dia como esse, só pode ser um sinal divino.

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19 março 2010

takk

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Sigur Rós é um banda que me foi apresentada numa manhã muito especial por uma pessoa muito amada. Não só ouvi Jonsi, o vocalista e sua trupe como vi um DVD belíssimo de uma turnê que eles fizeram pela Islândia (sua terra natal) para agradecer o seu povo pelo tremendo sucesso que fizeram no resto da Europa. O DVD chamado Heima ("início" em islandês) é um making of de vários shows-surpresa que fizeram em algumas cidadelas da ilha: tão, tão lindo que tira o fôlego. Dessas lembranças que se guardam com extremo cuidado e carinho na memória para não perder o frescor.
Lembro de me sentir transportada para um mundo lírico, de sonhos mesmo, fábulas e alegorias quando ouvi aquela voz em falsete cantando palavras que não faziam o menor sentido para mim, mas que me tocavam tão profundamente que quase me fizeram chorar.

- Eles cantam em islandês? – eu perguntei
- Não, é uma língua inventada. – disse Rafa com um sorriso no rosto

Então tudo fez muito sentido. São gênios.

Hoje descobri através deste site que Jonsi, o vocalista, lançou um projeto solo cantado em inglês. Pensei que poderia ser decepcionante ouvir o que ele teria a dizer, já que o que ele tem a cantar é tão forte que qualquer rima nada menos que do que genial poderia fazer tudo perder o sentido, mas o que ganhei esta manhã foi um belo presente.

Jonsi faz sentido, e fez os meus olhos se encherem de lágrimas.

SÉRIO, percam 4 minutos e 39 segundos do seu dia aqui. Segue letra.


Go sing too loud
Make your voice break - Sing it out
Go scream do shout
Make an earthquake...

You wish fire would die and turn colder
You wish your love could see you grow older
We should always know that we can do anything

Go drum do go out
Make your hands ache - Play it out
Go march through crowds
Make your day break...

You wish silence released noise in tremors
You wish I know it surrender to summer
We should always know that we can do everything

Go do you´ll know how to
Just let yourself fall into landslide

Go do you´ll know how to
Just let yourself give into low tide

Go do!

Tie strings to clouds
Make your own lake - Let it flow
Throw seeds to sprout
Make your own break - Let them grow

Let them grow (Endless summers)
Let them grow (Endless summers)

(Go do endless summers)

You will survive we´ll never stop wonders
You and sunrise will never fall under

You will survive we´ll never stop wonders
You and sunrise will never fall under
We should always know that we can do anything

Go do!



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18 março 2010

da série: exercícios de escrita criativa - 1

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Premissas: 5 sentenças, 1ª. pessoa, 5 palavras chulas e alguém sobre um trampolim.

Não é só assustador estar aqui, se eu parar pra pensar... o vento que gela neste ar rarefeito também dá um certo barato, um aperto no músculo esquerdo, uma pequena revolução intestinal e a sensação de completa leveza (vazio?) e absoluta cadência ritmada no tempo das palavras que saem da boca dela. A cada uma, tomo um pouco mais de impulso, empurro para baixo as pernas que se prendem através das unhas naquelas farpas de madeira transversal: “eu”, “você”, a “certeza”, a “dúvida”, a “dívida”, a “pena”, o “tempo”, o “fucking timing”, a “hora errada”, o “encontro certo”, o “medo”, a “porra do seu egoísmo de merda”, a “certeza morta”... a “vertigem”... a “filha da puta da saudade”. Eu ouço quieto cada uma e marco mentalmente aquelas que fazem sentido... ouço, marco, sinto e me impulsiono mais e mais e mais e mais e mais e... Cronometro o ritmo, analiso os “eus” e os “vocês” cada vez mais separados nas suas frases mas fatalmente juntos no contexto: EU blank VOCÊ, até que “eu”, “eu”, “eu”, “eu” e..... e é então que esqueço o resto e me posiciono cada vez mais perto da borda angulosa. Em frente – enquanto houver – eu vejo você se afastar... abaixo, a noventa graus de gravidade o salto da morte; da sua morte em mim. “Acho uma bosta ter que te dizer isso assim e usar o clichê do abandono que tantos outros já usaram mas.... entenda... o problema não é você, sou eu.”

15 março 2010

pioggia

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Ontem choveu dourado pela janela do banheiro. Tenho certeza que só eu vi, só eu reparei. Foram poucos segundos... mas eu vi.

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10 março 2010

Ditados de uma geração em (na) crise VIII

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"Vivo un Big Brother personal. Son premios y castigos todo el tiempo. La semana pasada, por ejemplo, me puse en el paredón."

P.M.

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22 fevereiro 2010

Ditados de uma geração na (em) crise VI



"we feel pain because of the gap between who we are at the moment and the person we could ideally be. It's because we can't master the ingredients of happiness straight away that we suffer as much as we do."


* after Nietzsche on Hardship (Part 6) - Philosophy, a Guide to Hapiness

20 janeiro 2010

b-day gift

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Esta é uma carta (papel, caneta) que queria publicar há algum tempo aqui, mas que por razões de desordem doméstica se manteve embaixo de jornais velhos por tempo indeterminado.

Achei-a ontem de manhã, e considero que relê-la foi o meu melhor presente de aniversário.

Aimee, I hope this doesn't pisses you off. All my love, zuccherinno.


"To say 'thank you for your hospitality' does not even begin to approximate the appropriate gratitude that I have for all that you have done for me. You have opened your heart, home and (literally) couch, despite all of the fireflies twinkling chaos in your brain, and have made me feel so welcome and at peace in your city and with your friends.

Business first - I have no idea what my 'tab' is at this point, but I can only imagine that with the SIM card, the meals, the taxis, it is something like this. If it's not enough, please let me know. I also left some pesos to get you started on your holidays =) Maybe they can help you with the taxi from the airport or something.


And now, to the pleasure that it has been spending this time with you. It is rare to find someone whom you can tell anything to with the confort that, at the very least, you won't feel any worse for having shared with them. No judgment, just the knowing eyea of a friend. When we find these people, these easy friendships, they are like cosmic puzzles pieces - it just fits, pretty much immediately.
I have love and respect in my heart for you, and I'm more than proud to call you my friend, my puzzle.

I know that there are not easy times for you, and I'm no strange to the feeling of helplessness when our own chemistry betrays us. I can only say that in dark and not-so-dark times, all we can do is march in a sort of Zeno's Paradox, ever closer to the goal, whatever it is, but always half the distance to it.

The important thing is the illusion od momentum, the one foot in front of the other. It's the thing that keep us going; that our hearts beating like a metronome, keeping time to whatever our souls are singing.

I know, deeply, that with enough footsteps, your soul's tune will stop being so damn Elliott Smith. Until the Mob Project, Adieu. xoxo Aimee

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05 novembro 2009

da série: "um gole de TPM"

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- Alô?
- Hoola, hija. Que haces?
- Nada, gordis. Estoy en casa, arreglando el armário. Por?
- Es que no me acuerdo cuál era la dirección de mi blog y esto me esta costando un huevo. Como era?
- elsenoritodeoteropuntoblogspotpuntocom
- Que no. Ese no es.
- Como que no?
- Que no! Te lo digo yo!
- Aff... En serio, mamá. Mira que te lo dije, que lo apuntaras en algun lado el paso a paso de como postar. Ya me va a tocar a mi crear un blog por tercera vez. Ahora no te acuerdas ni del nombre!!!
- Es que no me entero muy bien, hija. Pero te conte que hace poco descubrí como se apagan los cookies?!
- Y no te acuerdas del nombre de tu blog. Hay que joderse.
- Ai, mira! Si entro por laninadelospeinespuntoblogspotpuntocom y le doy abajo le sale la página de "La Casa Grande"
- pero ese es tu antiguo blog. Que nunca pudiste recuperarlo pq no tenias la contraseña.
- Ya lo sé, pero que quieres que te diga? Asi va, este trasto.
- pero no era elsenoritodeoteropuntoblogspotpuntocom?
- puntoGLOGspotpuntocom?
- QUE NOOOOOOOOO, MAMÁ! BLO! BLO! B-L-O-G-S-P-O-T.
- Ah!!!




A minha mãe tem um blog: http://elsenoritodeotero.blogspot.com/


Que aprobeche.


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03 novembro 2009

infarto

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“Hoje na terapia falei sobre aquele nosso papo.

Há um tempo não falava. Calhou que você veio a tona (como um pedaço de madeira apodrecido) em um momento do meu dia. De manhã, com o Paul, deixei surgir e foi natural, como uma constatação melancólica, uma pena perdida, uma mágoa alheia. Aquele tipo de compaixão que você é obrigado a sentir por uma história por saber que ela é triste, mas não exatamente por sentí-la. Como um acidente aéreo ou, neste caso, coronário. Quase um AVC.

Alguns reflexos ficaram mais lentos, algumas sinapses mais binárias, e o lado esquerdo do cérebro (o meu lado) se manteve vivo com auxílio das máquinas por alguns meses. (sinais vitais aparentes) Um pseudo-coma, uma sedação forçada. Repouso. Dieta. Reeducação alimentar.

Sei que você me envelheceu. Acho bom e ruim. As rugas me caem bem, a amargura não. Mas que bom, essa passa, os pés de galinha ficam e o tempo cura. Tudo. Me vejo mais bonita hoje, me sinto mais maciça.

Respiro aliviada, mas perco um pouco de mim pelo caminho.

Que pena, no fundo você não merece o pedaço que levou.

Sem saudade, sem amor e nunca mais sua...

Leda."

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18 setembro 2009

sobre o não-livro e outras encarnações

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"Ontem estava pensando...
Acho que se vivessemos em outro século, seríamos aquelas amigas que teriam grandes historias contadas por cartas, como se as duas dividissem suas vidasm seus anseios em palavras, em cartas.
Como se morássemos longe e quando morressemos iriam achar milhares de cartas e respostas... quem sabe daria um livro. rs"

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15 setembro 2009

do kundera

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Por uma razão ou por outra, ela estava descontente com ele e, assim como ela era capaz de impregnar a relação mais irreal com o sentimento mais concreto (materializado em uma lágrima), era capaz de dar ao mais concreto dos atos uma significação abstrata e à sua insatisfação uma denominação política

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in O Livro do Riso e do Esquecimento

08 setembro 2009

(d)ela



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Dela tenho um pouco de tudo.
Da cor dos olhos ao tom da voz, sou entre todos, a cria que mais se parece.

Dela herdei o formato do rosto, a cor dos cabelos, o suspiro e a curiosidade.
Nela descobri o significado da elegância, do bom gosto, do mau humor matutino e o prazer da leitura.
Dela tenho as pernas compridas, os olhos pequenos, a orelha rasgada e as sombrancelhas angulosas.
Ela me ensinou que, acima de tudo, está a felicidade (no sentido mais clichê da palavra).
Sempre insistiu nos bons modos à mesa, disse que poderiam me salvar de muitas situações no futuro... e ela tinha razão.
Aprendi a usar o garfo na mão esquerda, a falar espanhol fluentemente, a fazer tortilla de patatas, a usar o "por favor" e o "obrigada" para tudo o que faço na minha vida.

Com ela aprendi que a inteligência não serve de nada sem cultura, que a cultura não serve de nada sem referências, e que as referências só se adquirem com olhos curiosos.

Ela me mostrou muitos mundos e todos com o mesmo respeito: o mundo dela (que também é meu), o nosso (que também é dela), e todas as realidades paralelas a minha, sempre fincando os meus pés no chão para saber escolher.

As asas ela sempre soube que eu tinha, mas nem por isso me prendeu ao pé da cama: me ensinou a usá-las (a contragosto, sim) e me avisou que um dia "o meu circo ia passar".

Gosto dessa foto. Ela passou muitos anos na minha carteira, até que um porta-retrato a chamou para habitar a minha sala. Nariz do Fran, meio-sorriso da Patri e nesses olhos um mundo inteiro de possibilidades.

Saudades, mamá.

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27 agosto 2009

sobre o lixo

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Desde que vi ´Gomorra´ mudei drasticamente a minha percepção sobre o lixo. Ao contrário da grande maioria que viu o filme, o núcleo que mais me choca é o da máfia que negocia o escoamento do lixo tóxico industrial controlada pela Camorra italiana. Fiquei muito (MUITO) impressionada com a serenidade e naturalidade com que é negociado todo o trâmite.

É assim: a empresa produtora desse tipo de detrito é abordada por uma outra que promete tomar conta do “trabalho sujo” sem permitir que o seu cliente chegue perto de colocar as mãos (cobertas de pelica) na merda. Apenas no bolso. Literalmente.
O preço atrai e a oferta parece boa demais para ser “limpa”, mas a terceirizada garante “papéis brancos” e legalidade. “Fazemos como na América, we keep it clean.”

Ufa, aí sim.

A Camorra contrata trabalhadores do campo para enterrar o lixo venenoso num canto qualquer nos arredores da Campânia, a principal região onde a máfia atua. Os filhos da puta consultam estudos topográficos que dizem onde a natureza falhou (qualquer precipício, aterro ou mina resolvem o problema) e lá enterram toda a merda em um rápido e barato esquema de disfarce. Lavou, tá novo. Depois de pronto parece que nada passou por ali.
Et voilà, they kept it “white”.

Existe uma triangulação territorial nessa região entre as cidades de Giugliano-Villaricca-Qualiano que possui 39 aterros, dos quais 27 são de materiais de alta contaminação. Mas não tem problema... encheu? Toca fogo! Gente, em época de aquecimento global tem mais é que reciclar, néam? O mais assustador é que mesmo assim, o território aumenta 30% ao ano em metros cúbicos. TRINTAPORCENTO.
Bobagem mencionar que a terra torna-se cada dia mais estéril e que a mortalidade por câncer aumentou 21% nos últimos anos.

Ainda na reciclagem; depois de terem sido usados até o talo, queimados, enchidos outra vez e reutilizados até a podridão completa do solo, os clãs mafiosos conseguiram transformar esses lugares em terrenos edificáveis. Assim levantam graciosos aglomerados de casinhas vendidas a preços baixos. Ó que amor?
Mas porque mesmo lembrei disso?

Ah sim... por isso:



Importação nos tempos da crise

Li na Piaú um artigo ótimo e conciso sobre o lixo que aportou em Santos em forma de 4 contâiners pesando o total de 1.600 toneladas (sim, coloque muitos zeros aí) vindo da Inglaterra. Sucata doméstica, refugo industrial, sobras de comida e muitos vermes comendo a matéria orgânica em decomposição.

Destaque para a piada pronta: dentre os restos, encontraram caixas de dvd com o rótulo do Conselho Nacional de Pesquisa sobre o Meio Ambiente Britânico que continham documentários sobre a mudança climática do mundo. Palmas para todos.

É quase uma figura de linguagem resumida a uma imagem. Podíamos batizar, né? Tipo, hiper-pleonasmo-metonímico.

Eu imagino os funcionários portuários abrindo as portas da adorável remessa:

- Alô, seu Jaime. Então… er... o senhor não quer dar um pulo aqui?

Ninguém sabe, ninguém viu. Esse quase imperceptível volume fétido navegando mar afora, desbravando as águas oceânicas não tinha pai nem mãe nem muito menos o espírito santo.

O resumo da história é que o Brasil enterra a tonelada de lixo pela “pechincha” de R$ 45. Dez vezes menos do que no Reino Unido. Que tal? É o país exportando a sua expertise, meu Brasil!

Aposto que existe um canto do Acre pronto pra ficar atoladinho.

O mais legal é que consta registrado que o Brasil já chegou a importar 466,6 toneladas de pneus carecas ingleses. Oi? Pra quê mesmo? Ah, sim! Para unirem-se às caudalosas águas do rio tietê-em-flor.

Mas pelo visto esse leva e traz de containers podres, premiados como kinder-ovos não é exclusivo de paraísos naturais em desenvolvimento como o nosso, mas também de países tão europeus quanto a Alemanha. Ela tem um “défciti de merda” de 4 milhões de tonelada para abastecer as suas usinas termelétricas movidas a resíduos e compra o lixo camorrano da Itália pela salgada oferta de 250 euros a tonelada. Scheiße! Quase 14 vezes mais do que gastamos para enterrar aqui no Brasil.

Justo. Afinal, eles comem Barilla.

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29 julho 2009

art can help this

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um respiro:

A sober and a quiet mind is one in wich the ego does not obstruct the fluency of things that come in through the senses and up through one´s dreams.

Our business in living is to become fluent with the life we are living, and art can help this.

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27 julho 2009

portão 12

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Ela não chegou a cogitar uma feliz possibilidade do acaso.
Andou aquele saguão, então, como se fosse mão única, a sua carta na manga, o seu blefe perfeito.
Descortinou a sua franja para ampliar o seu campo de visão, mas também para que ele entendesse a sua linguagem.
Desfilou as suas pernas por aqueles breves metros com uma leveza que era só dela e de suas proporções.
Pensou se ainda estaria sendo observada. Certa de que sim, tirou um cigarro do maço e perfilou o rosto para acendê-lo.
Claro. No canto do olho direito ainda estava aquela amarga coincidência, que se destacava em um borrão perfeitamente reconhecível do resto-pastiche.
Cabelo grisalho nas têmporas. Olhos de curvas. Nas suas curvas. E ela sabia.
Sentiu o caminho inverso daquele mesmo arrepio, que terminou na sua última e mais perigosa vértebra. Na ponta, do fim da sua linha condutora emanou uma onda de calor que a enrubesceu como há muito ele não fazia.

Aquele olhar perdia tempo nos seus detalhes.

Sem razão alguma lembrou daquele beijo que deixou no espelho como um testemunho, uma prova. Sim, ela estava linda... mas não para ele. Para a chance.
Sentiu o sol daquela fresta lhe acalmar os ânimos, mas o frio a assustou.
Não era frio na barriga, era vento no peito. O vazio. O Talvez.
Deixou o borrão virar um pequeno grão indistinguível e seguiu em frente.
Pensou nas estatísticas, nas chances, nos números.

Mas...e se fosse ele?

Parou, intacta. Olhou para os lados, e contou até dez.


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09 junho 2009

en un lugar de la mancha de cuyo nombre no puedo acordarme

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Tive a sorte de falar espanhol como minha segunda lingua desde que me entendo por gente. Gosto de falar mais de um idioma, sou fã absoluta de todas as formas de comunicação e daquele tipo de pessoa que vibrou em insights na aula de linguística e semiótica do Dallari na PUC. Adoro entender o jogo, o quebra-cabeça. Para mim esse sim, é o grande diferencial entre nós e os grilos, por exemplo.

Essa intimidade com o idioma se deu em muitos momentos, em muitas esferas. Minha mãe, nativa "chica del norte", me brindou o sotaque mais puro que poderia ter aprendido, o de Castilla y León na Espanha. Depois de muitos verões ibéricos, infância e adolescêcia frequentando um grupo de nativos contemporâneos, virei um deles. Joder, macho! Só quem realmente me conhecia sabia dos meus pequenos deslizes, uma consoante muda pronunciada pela metade, um sotaque mal colocado, uma gíria do verão anterior.

Depois veio Cuba. Acere...o berço da fonoaudiologia no mundo, ao meu ver. Nunca vi povo pra comer sílabas que nem esse. Levei uns cinco almoços no bandeijão da escola pra entender que querarô (sem entonação de interrogração) era só a atendente me oferecendo uma colherada de ARROZ e não alguém pedindo o meu RG. O bom de Cuba foi que lá conheci o espanhol colombiano, argentino, equatoriano, boliviano, portorriquenho, peruano e... aaah, o chileno.

O chileno é difícil pra porra também, mas com um charme, uma rapidez inteligente, un raciocíonio sagaz e charmosamente cantado com indignação. É óbvio que como sou uma apaixonada pelo fenômeno da comunicação, caí de quatro pelo sotaque mais questionador e sensual da minha turma. Gonzalo, ou El Perro. Claro, a barba malfeita e olhar de "bombacha" ajudaram (sempre ajuda, né Clau?).

Amei mais de um ano e meio aquela toada chilena, aquele "po, gueon" e o meu amado "guachita", que sempre me derreteu.
Os modismos colaram, as gírias já eram parte da rotina do meu idioma e minha mãe se queixava pela casa dizendo que "Cervantes estava se revirando na tumba com o meu espanhol corrompido" quando eu conheci a Cuatro Cabezas. Aí fodeu.

O homem argentino é, por natureza, uma espécie preguiçosa de hommo sapiens no âmbito comunicacional. Trabalhando então; não tem nenhuma dó. Falam como matracas na sua conjugação diferente de tudo; e quando o TU vira VOS... meu amigo, é melhor VOCÊ aprender rápido, pq senão perde o bonde.

Na Cuatro Cabezas ninguém se esforçava muito pra te entender e se vc bobeava um pouco o produtor executivo virava as costas e te colocava pra falar com o eletricista:

- Mirá qué quiere la nena que no entiendo un carajo.

E assim você ia passando de carão em carão, até que um dia você se enchia e mandava com todas as letras no meio do set:

- Che, deja de hacerte el pelotudo y ayudame con este quilombo que tengo acá... dale, campeón.

Ahi todos riam e você passava a fazer parte dos hispanohablantes funcionais. Uma pequena vitória, ainda mais para uma mulher. :P

Eu ainda tive a sorte de que o meu grande amigo também conhecido como El Turco, Hernan, Her, La Gorda, Hernani ou Fernando… além de ser argentino, tem consideráveis problemas de dicção. `As vezes é difícil acompanhá-lo até o final das frases e eu pareço uma tia velha tentando leitura labial. O português dele é um pouquinho preguiçoso (ele namora uma outra hispanohablante funcional, a Bela Clau), mas desde que ele aprendeu a conjugar o verbo “fazer” a gente se entende muito bem. E melhor, num portunhol que é só nosso.

Ainda hoje tenho prazer em compartimentar o meu cérebro em sotaques diferentes em determinadas situações. Acho divertido, - me sinto meio atriz, rs -, e dou graças a minha mãe por fazer hoje com os meus sobrinhos o que fez com os seus três filhos.

Em tempo, não há forma mais bonita de dizer “eu te amo” do que “te quiero”.

Gracias, Mamá!


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02 junho 2009

01 junho 2009

Cassandra diz:

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Às vezes gosto de como conversas despretenciosas de messenger (ou "nonversations") se transformam em imagens potentes assim, no meio da tarde.
Cassandra ainda é um mistério pra mim (ironia e doçura em forma de curvas) mas a cada dia a conheço um pouco mais. Hoje ela me surpreendeu com esta linda confissão.




Cassandra diz:
nossa gata eu to com dor de estômago e dor de barriga de nervoso como se fosse eu que estivesse no aeroporto, decolando dentro de 35 minutos para a europa....

Cassandra diz:
n é a primeira vez q me coloco no lugar de alguém e fico sentindo as emoções, mas faz tempo q n sentia, pois tenho controlado isso mto bem.

Cassandra diz:
eu tenho um lado que é meio pira demais, meio brega e meio viagem de ácido que costumo esconder, mas tenho essas coisas de as vezes sentir o q as pessoas sentem em situações q nunca vivi... e tenho uma coisa de qdo amigos mtos próximos fazem certas coisas parece que fiz um pouco tbm, sabe? tipo... a Cassandra q vive em vc já foi a ny, a q vive no henrique vai ver a europa... umas viagens bizarras da

Cassandra diz:
minha cabeça meio enlouquecida

Cassandra diz:
deve ser pq eu sempre levo essas pessoas queridas comigo e pq qdo era criança eu realmente imaginava essas pessoas comigo... pessoas q eu já conhecia ou q imaginava um dia conhecer.

Cassandra diz:
aquela história do meu post, de sentar no canto do banco do carro, ou bem no meio, para dar espaço aos meus amigos é verdade.

Cassandra diz:
pensando bem acho q serei aquelas velhas parecem que falam sozinhas, sabe?

Cassandra diz:
e como eu piro em fotos de pessoas q nunca conheci, por exemplo, fotos do salvador dali com a gala num barco qquer, serei uma velha que é a melhor amiga do dali e vou trocar várias idéias com ele e com vários outros....

.dedee. diz:
posso postar tudo isso que vc me disse no blog?

.dedee. diz:
que lindo

.dedee. diz:
nunca ouvi essa piração de ninguém

.dedee. diz:
e me pareceu tão sincera e bonita...

.dedee. diz:
que queria compartilhar com pessoas....

Cassandra diz:
claro que pode, eu adoraria poder postar isso, mas estou travada demais, então por favor, faça isso por mim

.dedee. diz:
vou postar tal qual, tá?

Cassandra diz:




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26 maio 2009

Ditados de uma geração na (em) crise II


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Acho que a gente tem um problema de timming.
(Você é analógica... eu sou digital.)

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9.10.2008 - 16h20

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Cheiro de grama cortada, bem verde. Cheiro, luz, humidade e o barulho das folhas secando.
Gosto deste parque.
Ao longe uma buzina. A 10 metros um home run. Um senhor de cabelo branco deitado na grama estica suas pernas confortavelmente e descansa sua cabeça sobre os seus tênis. Música no shuffle, é claro.
Muitas crianças aprendendo a andar. Muitos adultos reaprendendo a só deitar na grama.
Um "oui" aqui, uma carruagem acolá. Uma maçã meio mordida, um freezbe descontrolado, esquilos subindo e descendo em árvores e uma noiva chinesa de mão dada com o seu prometido; linda, montada e virgem... calçada em seus melhores pares de nike.
A luz já está indo embora e a sombra já chegou em mim. Acho que é hora de ir.


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20 maio 2009

às terças (ou o primeiro beijo)

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Este é o primeiro beijo da arte ocidental. Não é incrível?!

Em primeiro plano estão Sant´Ana e São Joaquim (para os ateus: pai e mãe da pobre Virgem Maria) em representação de uma passagem do Evangelho apócrifo de S. Tiago onde os dois se reencontram depois de 30 dias separados. O encontro é dos mais tenros: mãos, olhos e bocas se confundem e preenchem nesse espaço os vazios numa composição forte (quase piramidal) sem a alteração dos tamanhos dos personagens (os protagonistas eram representados em maior tamanho que os secundários).
O "Encontro de São Joaquim e Sant'Ana", faz parte dos afrescos da capela de Scrovegni, na Arena de Pádua, e é considerado por unanimidade como o expoente máximo da maturidade artística de Giotto.
Aliás, falando nele... Giotto foi um cara importante.
É com ele que as figuras humanas começam a adquirir uma individualidade imagética diferente de tudo que tinha sido produzido na arte bizantina até então(figuras planas quase pictóricas sem nudez, volume ou dimensões). Ele levou à pintura a narrativa pelo gesto, pela expressão que não era cogitada desde que o conceito de beleza greco-romana caiu por terra com a ascensão da Igreja Católica (império cristão, na verdade). Quer dizer, o que o cara fez, basicamente, foi usar o que ele tinha a seu favor de forma inteligente. Todos os corpos continuavam cobertos, mas o movimento foi resgatado através das pregas dos tecidos, da sombra, do claro-escuro que concede VOLUME e maior naturalidade à representação. Demais.
Ele também deu uma atenção especial aos olhares, às expressões à troca entre os personagens... ou seja, ele “contava historinha” a sua maneira.
Tudo isso pode parecer bem "inocente" aos nossos olhos inundados de tantas referências visuais/virtuais, mas se pararmos pra pensar que a arte naquele então era a única mídia existente (e que não necessariamente tinha uma áurea de sacralidade por ser “arte”)... o cara revolucionou.
Imaginem o que era isso! Em um mesmo lugar tinha-se que dar espaço à tudo: troca de favores políticos, o didatismo necessário que a igreja exigia, à técnica e ao toque genial da junção da “fórmula” com o talento.

E nóis twuitando. Afe.


O espaço, como se vê, é absolutamente simbólico. As proporções são de mentirinha e tudo parece uma grande (pequena) maquete. Nada por acaso: pra se virar nos 30, ele tinha que mostrar o óbvio, por isso a arquitetura e as paisagens parecem cenários, papéis de parede para A grande encenação teatral dos seus rostos e expressões. Espertinho.

Os renascentistas que vieram depois, cheios de marra e certezas, consideraram Giotto um pintor primitivo, involuído. Que bom que à história deu-se o papel de consertar algumas bobagens.

Ufa.


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19 maio 2009

16 maio 2009

da série "coisas que me fazem bem - volume II"

Amo, amo as "não-fotos" e os momentos "péra! tá gravando!". A pose fica lá... por alguns segundos quietinha esperando um clic libertador.

Normalmente manda-se o fotógrafo `a merda e a foto de verdade nunca é tão fofa quanto o vídeo errado. Confira.






"Agora vai, sorriam!"



Aqui já tem aquele sorrisinho meio seco que sempre acaba entortando a boca e faz vc SABER QUE VAI sair péssima na foto.


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15 maio 2009

da série "Coisas que me fazem bem - volume I"



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Essa é uma das minhas vistas preferidas da vida. Já sentei nessa janela por hoooras a fio e essa imagem já é um daqueles pequenos cuts que vão passar como filme na hora da minha morte.

Mãe? Pai? Check!
I Dit It My Way de trilha? Check!
Textura 8mm? Check!
Piscina de bolinha,? Check!
Sobrinhos, a Lady, guerra de cuspe com a Patri e luta livre com o Fran, risadas e aquele pôr-do-sol de 2001 que eu prometi nunca mais apagar do meu cérebro? Check!

Esse pedacinho de pinheiros/perdizes, esse bendito quarteirão onde já me roubaram dois carros, uma camera, 10 horas de TCC e algum resto de dignidade `as 6 da manhã… é tão familiar aos meus olhos que fico até com saudade.
Estar diante desses prédios pálidos de céu curto e árvores apertadinhas significa estar em uma das melhores companhias e em um momento de afeto sempre grande.
O quarto da Thata tem uma parede que flica (flika?) em vermelho e azul, um baú amarelo, livros, quadros, fotos, mais livros e uma cama colada ah janela. Naquela cama onde sentamos para papear, rir muito (muito), chorar, ler e calar… eu me sinto muito bem e presente.
A porta e toda aquela sua manha de fechar, os beatles balançando atrás, e aquelas fotos que só grandes amigos são ainda capazes de guardar (e olhar). Tem um toque só dela, e detalhes que não percebe “mimar” que fazem toda a diferença. As cartas da clau, os poemas daquele outro, as redações que ganharam conrcursos. Ela lê, entona, choramos de rir. Falamos das desgraças, contamos um causo de "café da firma", elogiamos aquele garibe, repassamos as novidades do front e terminamos sempre com um "tchau, passarinha".

O tempo é tão leve, passa, vai. Ela faz as coisas parecerem mais simples, até de longe.

Saudades, Douglas!

08 maio 2009

27.9 - 06h40

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Engraçado. Não foi nem pq. eu tenha lembrado da sua pergunta (sobre o 1o. cheiro) mas assim que saí da imigração, ou melhor, da vistoria das malas na alfândega (pq aparentemente uma mulher viajando sozinha just for fun é um potente alvo de prostituição)... senti aquele cheiro de Miami. Aquele mesmo do aeroporto, do táxi, dos malls. Acho que é uma mistura de café aguado com bagel, mas ao mesmo tempo um toque de "gente" com humidade. Quando é que esses americanos vão desistir de colocar carpete em tudo?
A viagem foi cansativa. (uou! esta folha é realmente incrível de escrever!!!) Uma pobre senhora, sentada há uma poltrona de mim, passou mal e foi socorrida dentro do banheiro, que humilhação. Pressão baixa e cara de cu dentro de um cubículo. O marido, que não parava de gravar tudo e todos, ficou preocupado e pediu para a atendente chamar um médico pelo alto-falante (isso tem hífen?). Ele e ela tinham a maior cara de solidão do mundo, mesmo de mãos dadas.

na revista:
"Na tua ausência me perco na liberdade que só a solidão pode oferecer."


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07 maio 2009

linha de chegada

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Ela 1: - E aí amiga, hay garibes?
Ela 2: - Ah, o Jefferson... né?
Ela 1: - Correndo por fora...?
Ela 2: Não, nem isso. Tá com o motor engasgado.
(risos)
Elas: ...
Ela 1: - Mas será que não resolve uma chupeta?
(risos, risos, risos)


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04 maio 2009

unidunitê

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Um texto didático e pontual sobre o "vazio". Vale muito a pena ler na íntegra aqui, mas separei o que considero mais esclarecedor.


"Imagine a day in the life of a couple you probably know. He’s 27 years old, and she’s 26. They wake up beside each other in his downtown bachelor apartment and have sex that neither of them particularly enjoys. They’ve been sort-of dating for a while now, but they’re not willing to commit to each other: he likes her, but doesn’t know if he always will. She can’t decide if she likes him more or less than the other two guys she’s sleeping with.

He bikes to work at an advertising agency, where he uses his master’s in English to proofread ad copy, and spends several hours reading music blogs and watching movie trailers, periodically Twittering updates about his workday to his 74 followers. He doesn’t really hate his job, but feels as if his skin is crawling with vermin most of the time that he’s there, so he has a plan to move to Thailand, or to maybe write a book. Or go to law school.

At her government job, she instant messages her friends and mostly ignores the report she’s drafting because she’s planning on quitting anyway — and has been planning to quit for about a year now. She spends her lunch hour buying boots that cost slightly more than her rent, then immediately regrets it.

He listlessly works through lunch, then goes to the bar after work to meet up with some university friends, where they talk about their jobs and make ironic jokes about other people. Back at home, he wonders why he feels so gross and empty after spending time with them, but it’s mostly better than being alone.

She walks to the house that she shares with three friends and spends a few more hours on celebrity gossip websites, then clicking through the Facebook photos of girls she knew in high school posing with their husbands and babies, simultaneously judging them and feeling a deep pit of jealousy, and a strange kind of loss. “When did this happen for them?” she wonders.

They both eventually fall asleep, late and alone, each of them wondering what it is that’s wrong with them that they can’t quite seem to understand.

This phenomenon, known as the “Quarterlife Crisis,” is as ubiquitous as it is intangible. Unrelenting indecision, isolation, confusion and anxiety about working, relationships and direction is reported by people in their mid-twenties to early thirties who are usually urban, middle class and well-educated; those who should be able to capitalize on their youth, unparalleled freedom and free-for-all individuation. They can’t make any decisions, because they don’t know what they want, and they don’t know what they want because they don’t know who they are, and they don’t know who they are because they’re allowed to be anyone they want.

When a contemporary 25-year-old’s parents were 25, they weren’t concerned with keeping their options open: they were purposefully buying houses, making babies and making partner. Now, who we are and what we do is up to us, unbound to existing communities, families and class structures that offer leisure and self-determination to just a few. Boomer and post-boom parents with more money and autonomy than their predecessors has resulted in benignly self-indulgent children who were sold on their own uniqueness, place in the world and right to fulfillment in a way no previous generation has felt entitled to, and an increasingly entrepreneurial, self-driven creation myth based on personal branding, social networking and untethered lifestyle spending is now responsible for our identities."


O texto fala basicamente sobre os efeitos dos vintepoucos; incerteza, dúvidas, medos... e (eu sempre bati nessa tecla) EXCESSO DE OPÇÕES.

Eu nunca fui muito a favor dessas teorias coletivas de gerenciamento de decepções. Por exemplo: "ah, tudo bem, é culpa da crise dos vintepoucos... já já passa". My ass. Nêgo adora um neologismo, uma sigla (eu sou DDA, eu tenho TOC) ou uma simples matéria comportamental na Veja dessa semana para definir padrões, até os irregulares. Padrões irregulares, como os verbos, são difíceis de estruturar e encaixar no contexto quando não se sabe sua flexão (alias: flexibilidade).

Dou o braço a torcer, porém, e retomo uma criteriosa observação sobre o que já podemos chamar de "2009-cursado". Segundo uma amiga, a Lívia, alguma fucking lua deve estar retrógrada, reticente ou reincisiva nessa merda cármica de 2009. Particularmente, 2008 foi pior, mas este ano letivo não tá dando brecha pra ninguém, não. Separações, divórcios, volta para a casa dos pais, desilusões, perdas, choros engasgados em pistas de dança e sexo, drogas e rock'n'roll vazios... gentê, o fauno tá solto! Pq hoje em dia nem as bruxas estão dando conta dessa putaria cósmica que eu intimamente chamo de "purgatório astral".

Se for breve, que venha, derrube, arraste e varra daqui essa preguiça. Eu quero é mais engolir todas essas opções e regorgitar um menu de auto-indulgencia só meu. Enquanto isso, "é melhor ficar onde se está", como diria o Nichan, e observar. As dores devem ser vividas e as alegrias gozadas no seu tempo. As situações precisam decantar. Inclusive as Vênus mais botticellescas.

Ver e ouvir mais. Falar e opinar menos.

Enquanto isso, é bom olhar um pouco ao redor e flertar com mundos alheios e complementares. Acho que essa mesmice-azul, por ser jovem e não ter a camada de pó das decepções da "meia-idade", ainda tem o poder de enrubescer a cada mundo descoberto.

"Deixe acontecer, Diana. Fique onde está. De preferência com os pés bem fincados no chão."


ps: produçãããão, alguém trouxe a cordinha de cena?!



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30 abril 2009

o amor nos tempos do "pra sempre"

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Quem sabe um encontro, uma inesperável surpresa. Aquela carta que nunca chegou e que - porque não? -, poderia achar neste tempo um caminho errado (ou quiçá certo) de se perder um minha direção e voltar para onde sempre foi o seu destino. Aquele número achado no bolso da calça do dia em que você arrumou uma desculpa pra me deixar te achar como se a idéia fosse minha. Você foi um bom estrategista. Aquele postal que separei para você na volta do banheiro do bar. Sempre adorei essas frivolidades contundentes (e redundantes) de papel. O bilhete que você, enrolado, prendia ás minhas graças só pra me ver sorrir de lado, de costas, de nada. O recado verde no caderno, as ondas, o móbili. Aquilo tudo que você me vendia como sua oferenda (ou seria oferta?) no nosso altar que você considerava mais seu do que meu. Cartas de amor, aquelas mesmas tão ridículas quanto as da(o) pessoa. A delicia que foi te enxergar como artista, e me ver refletida em coisas lindas que causava em você, tão linda. A tua paciência com o meu silêncio, com as minhas dores, com os seus efeitos em mim. O banco vazio da tua aula de francês que gritou no meu ouvido “EU TE AMO, PORRA!” A nossa primera foto (que você mesmo revelou), no nosso primeiro aniversário, na primeira noite de sono no seu colo naquele pufe. O não-sexo e todos os sexos de mentira (e de verdade) que se seguiram. A falta do gozo, a descoberta de todo o resto que fazia das nossas noites uma fábula fálica de mãos e dor no banco de trás daquele carro. O teu olhar que me pedia “mente, mas diz que fica pra sempre”. A valsa no quarto, a orquestra do itunes. O palco, a coxia do armário, o (des)vestiário da tua cama. As mãos no vidro e aquele adeus onde ainda cabia tanto amor.

O nosso pequeno mundo. Os nossos universos que, paralelos, adoravam se flertar no tempo e se seduzir independente de nós. Eles se acharam, e nos avisaram que ali, naquela pessoa, existia algo que eles queriam.

Fodam-se vocês.


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18 abril 2009

Anedota da Bulgária (ou "presentes-lembrança")

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"Era uma vez um czar naturalista
que caçava homens.
Quando lhe disseram que também se caçam borboletas e andorinhas,
ficou muito espantado
e achou uma barbaridade."

Carlos Drummond de Andrade

N.A.: existem presentes que de tão especiais, são quase lembranças prontas para arquivar e levar embora para o resto da vida. Pianos, massinha, Bandoneons e Drummond, um quarteto de excelência.

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15 abril 2009

"para entender as mulheres" (ou "a potencial falta de objetividade do gênero feminino na hora de marcar um jantar")

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Lady / 17:13
A Janine é nossa. Eu vou entrar numa reunião. Saio as 18h direto pra aula. Quens e onde? Me mandam mensagens?
Sofia, vc vai?

Sofia / 17:24
eu iria....mas...se eu entendi bem...primeiro a janine tem dr e a lady tem aula de hist. da arte.certo?
nosso jantar vai ficar pras 22 hs?
eh isso? porque se for isso..eu vou fazer sexo antes...

Janine / 17:24
Para alegria geral a Brigitte TOPOU! Sô, vc não pode ir pra lá depois?Quando eu deixar a lady eu te deixo tb. Cassandra, manda o Johnny pastar um pouco (como eu fiz com o Fernando) e fala que vc vai ter que jantar com suas amigas. Onde combinamos?
Beijos

Sofia / 17:24
vcs me confundem...

Janine / 17:25
Não, flor, a Lady ligou pro Fernando e botou o pau na mesa e disse que eu to cansada blablabla e a DR ficou pra depois. Beijo

Cassandra / 17:25
o fê é seu namorado, o johnny é meu chefe... ele paga, indiretamente, meu jantar... rs

Janine / 17:27
Mas mesmo se vc pular o curso vc não consegue se liberar até umas 20h30? Ps: vc viu que a Brigi topou, né? A Brigi topou, a senhora tenho namorado que não sai com a gente topou!

Sofia / 17:28
ahahahahaha
eu posso fazer sexo outro dia, mas to sem carro
preciso saber horarios...

Cassandra / 17:30
vcs são ótimas! até 20h30 tenho que conseguir, afinal esse orçamento que estamos fechando é pra hoje ainda!tem um bistrozinho do lado do mestiço, perto da bela cintra... que tal?
não não não melhor, vamos no anita! assim já vejo o lance do meu aniversário!

Janine / 17:35
Eu topo, mas higienópolis é fácil para as meninas chegarem?
Brigitte sai da MTV (dr. arnaldo)
Sofia sai de Perdizes (acho - sai?)
Lady do Masp
Por mim tudo bem, 20h30 lá?

Cassandra / 17:54
se deus existir eu consigo pegar a lady no masp. que horas vc sai mesmo?

Janine / 17:58
Saio daqui às 19h30. Marco com a Brigi lá no Anita?

Cassandra / 17:59
quero propor outra coisa bem legal:vamos tocar colocar nossas roupinhas velhas e ajudar a amiga a fazer um faxinão!!!!!!! ebaaaaa!!!irrecusável, hein?

Sofia / 18:00
que eh vc?

Cassandra / 18:01
a lady do masp... ahahaha


N.A.: Cassandra nunca apareceu.


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31 março 2009

"pequenos gestos de amor e o imposto de renda"

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Recebi hoje de Rosario Assennato as seguintes linhas:


Di,
preciso do numero do chassis.

Pote copiarlo do documento do carro.

bejos

papai



N.A.: não, ele não é anarfabeto... só italiano.
PS: não é demais ele se chamar de "papai"?



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20 março 2009

grownup (or in?)

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Às vezes tudo parece inacreditavelmente certo. Emprego novo, aulas de história da arte, um futuro (e ansiosamente aguardado) flatmate, bons contatos, redhair, pautas internacionais, rostos novos, parque verde e corridas matinais. Amigos que voltam, outros que chegam, amores que ficam e flertes que, sem esforço, suspiram mais uma vez.

Mesmo assim... sinto falta. "Há sempre alguma ausência que me atormenta", diria o Camille... mas não é exatamente isso. Não é a falta, mas a presença. Não é deixar de, é simplesmente deixar. O Nichan categoriza como angústia. A Anna e a Carol como "o vazio". O wikipédia define como "sensação psicológica caracterizada por ABAFAMENTO, insegurança, falta de humor, ressentimento e dor", e a psicologia também enxerga como "uma emoção que precede algo (um acontecimento,uma ocasião, circunstância)".

Eu chamaria de crescimento. Medo do iminente, do inevitavelmente desejado. Da dor que não poupa felicidade.
Então: se a angústia é crucial na simbolização dos perigos reais (e às vezes imaginários, pq não?), não seria então apenas um pressentimento? (pré-sentimento?!)
Chamem do que quiser, eu chamo de medo de ser. É MUITO mais difícil aceitar ser quem se é de forma genuína do que viver uma vida de frustrações por não ser quem quem achamos que deveríamos ser.

Querer SER (em letras capitais) é abrir mão de tudo aquilo que sabemos que não podemos ser (assim, em minúsculo significado), então nos conformamos em TER.

É confuso, mas faz sentido.

Pelo menos pra mim.

Pelo menos pra hoje.

Aliás, que dia é hoje? 20?

Bah! Deve ser a TPM.



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05 março 2009

how to make a compliment

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Limpando minha caixa de emails há pouco achei esta surpresa deliciosa, como aquele último bombom de pecã que você achava que tinha comido e ... AHÁ! Ele só estava saborosamente escondido embaixo do papel...



"(...) sos como imaginé en realidad, pero en persona sos más. Como que todo lo que fui conociendo por otros medios cuando te tuve en frente aparecía con un numerito colgando arriba, como elevado a un exponente ".




Acho que foi o elogio mais adorável que eu já recebi de alguém. Me lembrei acenando (com aquele sobretudo verde) a um grande amigo que não conhecia do outro lado da rua.

- Good morning, pretty! Cerrá los ojos y escuchá esto lo más alto que puedas!





Saudades, wolfie!


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19 fevereiro 2009

Lembro com saudade

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- do pijama no dia em que fiz pular da cama. Da marofa indisfarçável. Do susto estampado no rosto.
- daquele óculos-escândalo e do bem que ele me sentou.
- daquelas conversas no final do dia, que, à exceção da entourage, poderiam se passar numa mesa de bar sem sombra de dúvida.
- da forma de reiterar um assunto, mexendo as mãos, cutucando as unhas, mas olhando no olho e dizendo "sabe?" E eu sabia.
- do tom vermelho da blusa, que ressaltava a cor do cabelo.
- do prazer com o qual falava dos amigos.
- do "quer que eu te conte a história?", e dos infinitos minutos que se sucederam.
- do momento em que percebi que aquele sorriso queria me dizer alguma coisa.
- da segurança no "ação".
- do sorriso no "corta".
- do buraco na parede.
- do choro cansado on air.
- de ter ganhado a minha própria flor.
- da minha primeira mensagem, que nunca chegou.
- da descoberta. Da febre. Da gastrite nervosa.
- da água das 5h. Do horóscopo daquele dia.
- daquela noite GLORIosa. Da pista dirty dancing.
- do Carlos e sua linda casa.
- do presente especial. Sou, cores, páginas em branco. Vinícius, claro.
- da companhia noutras terras. Da força, do ânimo, do "vamo que vamo".
- do Eu, que não demorou para se transformar em Você.

De todas as lembranças que tenho, cito estas. Tímidas, primeiras, sinceras. As minhas preferidas.
Das outras lembro com carinho e guardo com cuidado, "lá onde a polícia dos adultos não adivinha nem alcança".
Desenho um sorriso no canto, e sigo em frente.

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19 janeiro 2009

reflexões pertinentes para uma segunda-atípica

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Publicado hoje na Folha de S. Paulo, por Luiz Felipe Pondé

"(...) creio que somos motivados mais por paixões ordinárias do que por grandes idéias, penso que mentimos a maior parte do tempo, principalmente quando falamos em nome do "bem coletivo", confio mais em quem se crê mal do que em quem se crê a favor do bem, tenho medo de que o medo seja mais essencial do que o amor e de que, na ausência de luz elétrica, nossas almas penadas nos visitem."

ps: You say it's your birthday, It's my birthday too, yeah!


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14 janeiro 2009

Famiglia A.B.



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Muitas, ou quase todas as informações que se relacionam a nós, e exclusivamente a nós, são mutáveis. Caráter, humor, instintos, corte de cabelo, cicatrizes, estado-civil, estado anímico, amigos, moral, ética, profissão, saúde, religião, conta bancária e até mesmo a índole podem e vão mudar enquanto o tempo passar e as nossas histórias se desenharem sobre ele.

Existe uma COISA porém, que não muda nunca. Uma só COISA que é a base de absolutamente tudo: a nossa cadeia genética. É essa COISA que define, pelo menos fisicamente, tudo o que seremos para o resto de nossa existência. Essa não muda nem com muita plástica, ioga ou escova progressiva. Você é uma cadeia de informações e disso não há como escapar.

Se pararmos pra pensar com inocência e esquecermos todas as aulas de genética do colegial, é muito, mas muito cômico imaginar que o processo de criação dessa COISA se dê em uma situação tão humana e mundana quanto o sexo. Ali, onde quer que fosse; de pé, de quatro ou no fulgor de uma rapidinha, papai e mamãe geraram através de um orgasmo (veja bem, um orgasmo!), informação suficiente para criar mais um deles. Rá! É quase uma piada!

Mais inacreditável do que isso: se a divisão é feita em partes iguais, e se mamãe tem direito a me doar as suas madeixas louras assim como papai tem de me dar seus incríveis olhos azuis... em que esfera se trava essa luta de genes? Quer dizer que é uma loteria, essa brincadeira?!

Independente das circunstâncias da minha concepção (deus me ajude a nem imaginá-las), fato é que no sexo há sempre uma energia, independente de sua natureza. Sei que a que me gerou só pode ter sido especial, já que o meu sorteio me fez ser parte de um grupo de outras COISAS sensacionais e ainda por cima ligadas geneticamente: a minha família.

Familia então, é o caminho, o cruzamento, a união e a separação das COISAS de todos aqueles que foram gerados por outras energias, mas tão sortudos quanto eu nas suas loterias.

Podemos fugir, nos esconder, brigar, romper laços, quebrar barreiras morais, cristãs, passar natais e mais natais longe uns dos outros... mas a família e todas as suas COISAS permanecem ali: no formato das mãos, na alergia à poeira, nas enxaquecas crônicas e nos narizes com formatos estranhos.

A família está no espelho e é o nosso próprio espelho. Tão inegável quanto cruel na sua ditadura genética; tão crítica quanto segura de sua existência; mas tão irritante quanto deliciosa na fluidez de suas risadas.

Adorei as férias, família! E que sejam bem-vindas as nossas futuras COISAS!

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ps: obrigada, Anna!

06 janeiro 2009

1.b) tic tac

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Este não é um post de ano novo, de otimismo ou de projeções para 2009 (sim, este virá, em seu momento).
Este é um post intermediário e até meio bobo.

Pergunta: o tempo passa rápido demais ou nós o fazemos correr conforme as nossas necessidades?
Não, não... o tempo é sempre o mesmo. O que muda é a quantidade de rugas e/ou cabelos brancos que nós permitimos que ele nos traga.

Mariana?

Engraçado, hoje em dia não vale nem um pé de galinha.

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